"Como faz notar Marta Zubía, 'o Verbo se humanizou, não se varonizou" A mulher na Igreja. O nó do problema (II)

Revuelta de Mujeres en la Iglesia
Revuelta de Mujeres en la Iglesia

"A discriminação das mulheres pela Igreja oficial constitui um escândalo e um pecado. De facto, é contra os direitos humanos e a vontade de Jesus"

"O próprio Papa Francisco tem impedido colocar a questão, argumentando que 'o sacerdócio é reservado aos varões'… Jesus é homem, mas, como faz notar Marta Zubía, o que o Evangelho quer dizer é que o Verbo se humanizou, não que se varonizou"

"Foi com a interpretação da Eucaristia como sacrifício, e não como uma celebração, que surgiram os sacerdotes, com uma ordenação sacra, o que levou, contra a vontade de Jesus que disse: 'sois todos irmãos'"

"Como mostro no meu mais recente livro 'O Mundo e a Igreja. Que Futuro?', a Igreja sempre teve carismas, funções, ministérios..., mas nem Jesus nem os Apóstolos ordenaram sacerdotes. Ela precisa de uma profundíssima reforma, e a não discriminação das mulheres é essencial"

A crónica da semana passada terminava com a pergunta: Porque é que o acesso das mulheres ao ministério sacerdotal não teve sequer possibilidade de ser colocado no Documento Final do Sínodo sobre a sinodalidade, aprovado pelo Papa Francisco em Outubro de 2024? E prometia tentar na crónica de hoje explicar como esta é questão decisiva na Igreja.

‘Informe RD’ con análisis y el Documento Final del Sínodo

A discriminação das mulheres pela Igreja oficial constitui um escândalo e um pecado. De facto, é contra os direitos humanos e a vontade de Jesus. Tentarei desfazer equívocos para ir ao essencial.

Anne Tropeano. Lucha por el sacerdocio femenino en la Iglesia católica
Anne Tropeano. Lucha por el sacerdocio femenino en la Iglesia católica

- O próprio Papa Francisco tem impedido colocar a questão, argumentando que “o sacerdócio é reservado aos varões, como sinal de Cristo Esposo que se entrega na Eucaristia”.

Como responder? Sim, Jesus é a visibilização de Deus, mistério indizível, em humanidade. O Evangelho segundo São João escreve que o Verbo (o Logos, Palavra) se fez carne (em grego, sarx), humanidade frágil. Sim, Jesus é homem, mas, como faz notar Marta Zubía,o que o Evangelho quer dizer é que o Verbo se humanizou, não que se varonizou, que “se fez homem (anthropos, homo) e não que se fez varão (aner, vir). Deus não se humanizou na sexualidade de Jesus, mas na sua pessoa, na sua humanidade. Esta redução, agravada pelo uso exclusivo de linguagem e imagens masculinas, leva a considerar a masculinidade, pelo menos na prática, como uma característica essencial do próprio Deus.”

Neste sentido, há quem argumenta também que na Última Ceia só havia homens, os Apóstolos — afirmação muito discutível — e que só a eles foi entregue o governo da Igreja. O teólogo Herbert Haag, talvez o maior exegeta do século XX, respondeu que então, uma vez que todos eram judeus, só se poderia ordenar judeus!...

Eucaristía en la iglesia primitiva
Eucaristía en la iglesia primitiva

Jesus trouxe por palavras e obras a melhor notícia que a Humanidade teve: Deus é bom, Pai/Mãe e todos os homens e mulheres são seus filhos e, portanto, irmãos. Isso era intolerável para os interesses do Templo e do Império, que se coligaram para o assassinar. Portanto, Jesus não foi vítima de Deus, mas dos homens. Que Deus seria esse que teria precisado da morte do Filho para aplacar a sua ira? Note-se que Joseph Ratzinger, quando era só professor, escreveu que recusava acreditar que Deus se tornou “misericordioso” só depois de ver satisfeita a sua “vingança”. Opondo-se à teologia da “satisfação” que situava a cruz “no interior de um mecanismo de direito lesado e restabelecido”, rejeitou a noção de um Deus “cuja justiça inexorável teria exigido um sacrifício humano, o sacrifício do seu próprio Filho. Esta imagem, apesar de tão espalhada, não deixa de ser falsa”.

-Foi também Herbert Haag que mostrou que as primeiras comunidades cristãs celebravam a Eucaristia, um banquete festivo, recordando a memória de Jesus, o que Ele disse e fez, a sua morte e ressurreição, e aprofundando o seu compromisso na realização do Reino de Deus... Quem presidia era um cristão ou uma cristã com uma casa melhor para se juntarem. Foi com a interpretação da Eucaristia como sacrifício que surgiram os sacerdotes, com uma ordenação sacra, o que levou, contra a vontade de Jesus que disse: “sois todos irmãos”, à divisão em duas classes: clero e leigos... 

Como mostro no meu mais recente livro — O Mundo e a Igreja. Que Futuro? —, a Igreja sempre teve carismas, funções, ministérios..., mas nem Jesus nem os Apóstolos ordenaram sacerdotes. Ela precisa de uma profundíssima reforma, e a não discriminação das mulheres é essencial.

Qué iglesia quería Jesús?», por Herbert Haag – Pensamiento y cultura

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