"     As mulheres têm toda a razão quando criticam a Igreja oficial, pois ela discrimina-as de modo indigno" A mulher na Igreja

Revuelta de Mujeres en la Iglesia
Revuelta de Mujeres en la Iglesia

"Embora se não excluam traços maternos em Deus, a Bíblia chama a Deus Pai e não Mãe"

"É claro que Deus não é sexuado; portanto, chamar-lhe Pai é uma metáfora. Assim, tanto poderíamos dirigir-nos a ele como a ela, isto é, tanto poderemos chamar-lhe Pai como Mãe"

"Constitui, pois, uma amarga desilusão  que o Sínodo que terminou em Outubro com a aprovação do Papa mantenha as portas fechadas à possibilidade da ordenação das mulheres"

 "Se a verdade é mulher, não teremos razões para suspeitar que todos os filósofos, na medida em que foram dogmáticos, pouco entenderam de mulheres?" É com estas palavras que Nietzsche inicia a sua obra Para Além do Bem e do Mal, escrita em Sils-Maria, 1885.

    Esta afirmação aplica-se não só aos filósofos, mas também aos teólogos, e, em geral, infelizmente, aos dirigentes, por princípio homens, da Igreja Católica.

Embora se não excluam traços maternos em Deus, a Bíblia chama a Deus Pai e não Mãe. Em primeiro lugar, porque se vivia numa sociedade patriarcal, e, depois, porque era necessário evitar toda uma linguagem que lembrasse as deusas pagãs da fertilidade...

‘Informe RD’ con análisis y el Documento Final del Sínodo

Mujer en la Iglesia
Mujer en la Iglesia Quique

É claro que Deus não é sexuado; portanto, chamar-lhe Pai é uma metáfora. Assim, tanto poderíamos dirigir-nos a ele como a ela, isto é, tanto poderemos chamar-lhe Pai como Mãe. E acrescento mesmo: o Deus que Jesus anunciou é o Deus bom e os cristãos deveriam dirigir-se-lhe sempre como Pai e Mãe (Pai/Mãe) — veja-se o famoso quadro de  Rembrandt “O Regresso do Filho Pródigo” e repare-se nas mãos do Pai...

No Credo cristão, referimo-nos a Deus como Pai omnipotente criador do céu e da terra. Não dizemos: Mãe omnipotente. Isso está também vinculado à concepção da biologia grega, concretamente aristotélica, que, no acto da geração, atribuía toda a actividade ao sémen masculino. Portanto, a mulher era considerada essencialmente passiva. Não se esqueça que o óvulo feminino só em 1827 foi descoberto.

Por isso, Santo Tomás de Aquino, na sequência de Aristóteles dirá expressamente que "a mulher é algo de falhado": de facto, de si, a força activa do sémen está orientada para gerar uma realidade plenamente semelhante, portanto, do sexo masculino; a geração do feminino acontece devido a uma fraqueza. Daqui concluirá que por natureza a mulher é subordinada ao homem, que os filhos devem amar mais o pai do que a mãe, que o sacerdócio está vedado às mulheres, que as mulheres não podem pregar, pois a pregação é um exercício de sabedoria e autoridade, etc...

 Estas e outras razões, como, por exemplo, influências gnósticas e o celibato obrigatório dos padres, contribuíram para que a Igreja Católica se tornasse altamente hierarquizada e masculinizada, patriarcal. Note-se como a própria língua, que é sedimentação e forma de um mundo, está, no referente à autoridade, estruturada de modo machista: basta pensar que, se já não nos causa hoje dificuldade ouvir falar em ministra, por exemplo, ainda constitui autêntica agressão dizer, por exemplo, uma bispa... E que nome dar a uma católica feita cardeal?!...

     As mulheres têm toda a razão quando criticam a Igreja oficial, pois ela discrimina-as de modo indigno. Mas têm obrigação de ser amigas de Jesus, pois ele não só não as discriminou como as defendeu sempre. Pense-se — só exemplos — na samaritana, na adúltera...; pense-se sobretudo em Maria Madalena, a primeira a fazer a experiência avassaladora de fé de que Jesus, o crucificado, ressuscitou, está vivo em Deus para sempre; ela reuniu de novo os discípulos, que tinham fugido, de tal modo que até Santo Tomás a chamou a  “Apóstola dos Apóstolos”...

Constitui, pois, uma amarga desilusão  que o Sínodo que terminou em Outubro com a aprovação do Papa mantenha as portas fechadas à possibilidade da ordenação das mulheres. Contra o Evangelho e os direitos humanos, continua o “clericalismo” que Francisco tanto diz ser “a peste” da Igreja. (Continua)

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