3º DTC: HORIZONTE ALTERNATIVO DO REINO... (P. A. Palaoro SJ)

Apagaram-se as luzes do Natal; os Magos voltaram a seus países; Jesus foi revelado como o “Filho amado” no Batismo. Agora começa o tempo do “chamado”, para “fazer caminho com Jesus. É o “tempo do seguimento”.

Jesus irrompe na nossa Galileia cotidiana com um chamado para viver de maneira alternativa, mais humana e ditosa.

Jesus não começa sua vida pública com ameaças, nem com anúncios de castigos. Começa proclamando a Boa Notícia de Deus: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo”. Tudo aquilo que “buscamos”, já está próximo.

E para acolher esta Boa Nova faz-se necessária uma profunda conversão. O termo “conversão”, traduzido do grego “meta-noia” (mais além da mente), nos convida a “outro modo de pensar, de ver, de agir...”

Jesus não deixou como herança uma nova doutrina religiosa da qual se pode extrair alguns princípios que logo são aplicados à vida. O que Ele nos traz, a partir de sua experiência profética, é um novo horizonte para assumirmos a história, um novo paradigma para humanizar a vida, um marco para construir um mundo mais digno, justo e ditoso.

Sua mensagem não provém do interior do sistema imperial nem da instituição do Templo. Pelo contrário, desmascara a iniquidade do Império e a conivência do Templo, sacudindo a indiferença de muitos e redefinindo as expectativas de outros.

Jesus não é um escriba judeu, nem um sacerdote do templo de Jerusalém, nem um asceta do deserto. O específico seu não é ensinar uma nova doutrina religiosa, nem explicar a Lei de Deus, nem assegurar o culto de Israel. Jesus é um profeta itinerante, um homem a caminho, aberto às surpresas de Deus. Caminhava pela Galileia, anunciando um acontecimento, algo que já está ocorrendo e que pede ser escutado e atendido. Ele desencadeia um novo movimento humanizador, que coloca o ser humano no centro de sua missão. Deus está comprometido com a história humana, por isso é preciso mudar e viver tudo de maneira diferente.

Começa um tempo novo, uma história nova. Deus não nos deixa sozinhos frente aos nossos conflitos, sofrimentos e desafios. Quer construir, conosco e junto a nós, uma vida mais humana. Para isso, é preciso mudar a maneira de pensar e de agir.

O que Jesus chama “Reino de Deus” não é uma religião. É muito mais. Vai mais além das crenças, preceitos e ritos de qualquer religião. É uma experiência fundante de Deus que re-significa tudo de maneira nova.

Jesus nunca define o que é o Reino de Deus. Ele o encarna em suas palavras e em sua vida; é algo que irrompe, de maneira surpreendente. O “Reino de Deus” é a vida, tal como Deus deseja que a vivamos.

Se queremos saber o que é o Reino, também nós devemos nos colocar a caminho com Jesus: Ele é o Reino.

Para Jesus, a vida de uma pessoa vale pela causa à qual se entrega. Ele desperta nas pessoas uma garra, uma vibração e um entusiasmo nobre. Acolher a proclamação do Reino é uma prova de audácia e coragem.

É preciso sonhar alto, ter ideais, ser uma pessoa corajosa e marcada pela esperança para poder “escutar” o apelo de Jesus; é preciso ser apaixonado, aceitar correr riscos na vida para saber o que significa “estar e fazer caminho com Ele”; é preciso forte dose de ousadia para transcender-se, ir além de si mesmo...

Jesus não só se deixou mobilizar pelo “sonho do Reino”, mas foi também capaz de seduzir e mover outras pessoas a participarem desse mesmo sonho. Por isso, os primeiros discípulos deixaram-se impactar pela força do seu chamado e foram capazes de dar uma nova direção às suas vidas.

Todas as narrativas acerca do chamado conservam a marca intencional de um encontro surpreendente, inesperado e expansivo: deixar a vida estreita do lago de Genezaré para entrar no vasto oceano de vida.

Há um dado, um tanto quanto estranho no chamado de Jesus: parece ser um chamado que quase não tem programa. Ele afirma simplesmente: “sereis pescadores de homens”. O que isto quer dizer?

Esta frase deve ser lida não no sentido quantitativo, típico dos proselitismos e da mentalidade moderna, mas num sentido mais qualitativo: “pescar homens” é extrair o melhor, fazer emergir a autêntica qualidade humana desse mar turvo de inumanidade que somos todos.

No contexto atual, essa expressão tem uma enorme importância: porque é verdade que nem todos os homens desejam ser cristãos, mas, seguramente, continua sendo verdade que Deus deseja que cada um extraia de si a melhor versão possível.

O convite para “pescar homens” evoca a imagem de sair de um meio aquático e começar a respirar. Não poderíamos ver aí a possibilidade de ajudar outros em um novo nascimento, de uma saída das águas amnióticas para começar a respirar a vida do Espírito?

O chamado de Jesus individualiza e personaliza. Responder ao chamado de Jesus inaugura uma nova relação com os(as) seus(suas) seguidores(as): Ele adiante, nós atrás. Deixamos nossos estreitos mares da vida para navegar pela imensidão de outro oceano.
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