NO INTERIOR DE UMA GRUTA... (cf. Pe. A. Palaoro SJ)

Na noite de Natal, Deus “desce” aos rincões da humanidade; uma intensa Luz brilha no interior de uma gruta e se expande em direção a todo o universo. “Jesus nasceu”.

As grutas sempre despertaram fascínio nos seres humanos; elas possuem uma força atrativa e guardam segredos em seu interior. Ao mesmo tempo, simbolizam o desejo permanente de retornar ao ventre materno, lugar de segurança, e de aquecimento.

A contemplação do Nascimento de Jesus nos impulsiona a fazer a travessia para o interior de uma Gruta: onde o Grande Mistério se faz visível e revelador do sentido da existência humana.

Entremos nela com respeito e suavidade, para adentrar no seu mistério. Quem é digno de Deus? Nada está à sua altura, nenhum palácio, nenhuma forma de sabedoria humana... Por isso, Deus decidiu escolher um lugar despojado de tudo; apenas, um homem e uma mulher...

Deus se deixa impactar por tudo aquilo que o rodeia. Deus “adentrou” na humanidade e de aí, nunca mais saiu. Agora pode ser buscado em tudo o que é humano. O Nascimento de Jesus inspira a nos deter sobre o significado dessa gruta, para nossa vida e para a comunidade cristã.

A gruta é como as entranhas da humanidade, onde a vida brota. É a natureza amiga que acolhe e abriga; é refúgio e proteção. Francisco de Assis, em sua vivência de Natal, a encheu de natureza, pessoas, animais, vegetação, riachos… tudo em expectativa, querendo participar da nova criação.

A gruta está dentro e fora de nós. Dentro, nesse lugar marginal de nosso ser, escuro, frio, e que tememos. E fora de nós, grutas viventes, misteriosas e desejosas de serem conhecidas e visitadas... E, para entrar na gruta, é preciso sempre se agachar, descer de nosso ego inflado, e das nossas vaidades.

“Para eles não havia lugar na hospedaria” (Lc 2,7). Uma cocheira de animais funcionou como “centro de acolhimento”. A vida de Jesus, desde o início, foi muito semelhante àquela de um “clandestino” e sem papeis: indesejado e incômodo. E Ele continua vindo a nós sob o semblante do migrante.

É surpreendente que a pequenez e a vulnerabilidade sejam o cartão de visitas de Deus. Deus não nos estende a mão a partir de cima, senão que se mostra necessitado, dentro de uma gruta. Ele nos ajuda a partir da fragilidade. Ele está “envolvido em faixas”, deitado em cima de palhas, como se não houvesse outro modo de se revelar.

Na Encarnação e Nascimento de Jesus esvaziou-se o céu; Deus, em sua misericórdia, abandonou o trono altíssimo, exilou-se nas entranhas profundas da humanidade e assumiu tudo o que é radicalmente humano.

É por esse caminho que podemos chegar à descoberta e à experiência de Deus; é também por este caminho que podemos chegar ao conhecimento de nós mesmos.

Mais de 20 séculos se passaram e ainda há muita criança que nasce na rua...

FELIZ NATAL?!
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