Missa de costas para à realidade dos pobres?... (cf. Pe. Paulo Crozera/Campinas)
Há quem diga que "o ideal era quando o padre celebrava a missa de costas para o povo, pois todos estavam voltados para Deus. Agora o povo está voltado para o padre!". Tais pessoas ignoram totalmente a belíssima renovação litúrgica que trouxe o Concílio Vaticano II e querem uma volta atrás em nossa Igreja!
Antes do Concílio era o padre que celebrava, como "mediador" entre Deus e o povo. E o povo "assistia à missa", que inclusive era em latim, uma língua somente dominada pelos clérigos. Pelo modo como se celebrava, o padre é quem era o ator de toda a ação litúrgica e os fiéis leigos eram apenas os beneficiados em suas necessidades. Desta forma, o ministério do padre foi dissociado da comunidade e os leigos foram desqualificados por completo, e reduzidos àqueles que não são, não sabem e não podem.
A renovação litúrgica do Concílio situou novamente o padre no interior de uma comunidade rica em carismas e ministérios; valorizou o sacerdócio comum de todos os fiéis, do qual se participa pelo Batismo; e colocou a Eucaristia como fonte da vida cristã. Ao padre coube o papel de presidente da unidade desta comunidade eucarística, o qual deverá "presidir" também a ação litúrgica, em comunhão com toda a assembleia que "celebra" o culto agradável a Deus. Além disso, determinou que todos "os fiéis participem nela consciente, ativa e frutuosamente" (Sc 11). Um ministério de unidade, de animação, de incentivo a toda uma comunidade, fazendo-se "um irmão entre irmãos".
O Concílio foi mais além, afirmando no número 14 deste mesmo documento: "É desejo ardente da mãe Igreja que todos os fiéis cheguem àquela plena, consciente e ativa participação nas celebrações litúrgicas que a própria natureza da Liturgia exige e que é, por força do Batismo, um direito e um dever do povo cristão, 'raça escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido'". Portanto, a melhor expressão disso é quando estamos todos ao redor do mesmo altar para participar do mesmo Pão e do mesmo Cálice.
E nesse mesmo parágrafo, os padres conciliares também alertavam: "Mas porque não há qualquer esperança de que tal aconteça, se antes os pastores de almas não se imbuírem plenamente do espírito e da virtude da Liturgia e não se fizerem mestres nela, é absolutamente necessário que se providencie em primeiro lugar a formação litúrgica do clero". Infelizmente, neste sentido, parece que alguns continuam muito mal formados.
Esse formalismo litúrgico, que causa um verdadeiro engessamento da liturgia e um distanciamento por parte dos fiéis leigos e leigas, acaba sendo expressão da falta de preocupação dos ministros ordenados com a realidade em que vive o povo, especialmente os pobres e excluídos. Nesta concepção do ministério, os padres parecem ser apenas ministros do culto, do sagrado, dando as costas à realidade e ao sofrimento das pessoas.
Será que não estamos buscando um "retorno ao passado", deixando de lado a "alegria do Evangelho" e desatentos à ação do Espírito Santo que faz novas todas as coisas? Corremos o risco de centrar a atenção num ritualismo exagerado e a vida ficar distante da liturgia.