Gustavo Gutiérrez: uma vida em favor dos pobres
Ha noventa anos, no dia 8 de junho, nascia em Lima, Peru, alguém que se tornaria famoso não por ter dinheiro e poder. Tampouco por estar em altos cargos, gozando de muito prestígio e visibilidade. Mas por haver escolhido para si um lugar que é exatamente o contrário do prestígio e do poder, frutos da ambição e da riqueza. Gustavo Gutierrez dedicou toda a sua vida aos pobres e a elaborar um pensamento teológico que pudesse ajudar em seu processo de libertação.
Quem o conhece é imediatamente atraído por sua carismática personalidade e fulgurante inteligência. Igualmente será seduzido por seu humor oportuno e vivaz. De olhar penetrante e terno, esse limenho nonagenário teve uma vida sempre marcada pela superação de alguma dificuldade: seja a osteomielite, que lhe deixou sequelas para caminhar, ou a origem latino-americana, que o situava na periferia do mundo culto e letrado, até a opção de vida pelo sacerdócio, que o fez servir por vinte anos em Rimac, uma paróquia situada em um bairro popular de Lima.
Seus títulos universitários são múltiplos. É graduado em medicina, letras, filosofia, teologia e psicologia. Sua pós-graduação em teologia o levou a universidades na Bélgica, França e Itália, obtendo o título de doutor. Esse galardão máximo do mundo acadêmico lhe foi outorgado outras 23 vezes, sob a forma de doutorados “honoris causa” em diferentes países da América do Norte, Europa e América Latina. Ganhou o prêmio Príncipe de Astúrias. É frade dominicano desde 1998.
Porém, o que faz grande esse peruano de baixa estatura física e gigantismo intelectual é uma pergunta que se tornou o eixo central de sua vida: Onde dormirão os pobres? Atormentado por essa dúvida, ele começou a elaborar uma teologia que partia da práxis do amor cristão e tinha como protagonistas os marginalizados e deserdados de um progresso pervertido e cruel.
Em 1968, como assessor teológico da II Conferência do Episcopado latino-americano em Medellín, Colômbia, Gustavo contribuiu muitíssimo para que a categoria “pobres” se tornasse o centro do documento de conclusões, marcando a prioridade da Igreja latino-americana após o Concilio Vaticano II. Em 1971, publicou seu livro “Teologia da libertação. Perspectivas”, que foi o texto fundador desta corrente teológica que marcou a Igreja do continente.
A opção pelo termo “libertação” é original de Gutierrez. Segundo ele, é mais rica e expressiva que a palavra “desenvolvimento”. Recolhe melhor que esta as profundas aspirações do povo latino-americano para a construção de uma sociedade justa e fraterna. Além disso, a palavra mostrou-se fecunda para nomear uma reflexão teológica que se destinava a colaborar no processo de libertação das grandes maiorias oprimidas.
Pensar a fé na perspectiva da teologia da libertação foi então, desde sempre, uma tentativa de buscar uma resposta para a pergunta: que relação existe entre a salvação e o processo histórico de libertação do ser humano? O teólogo peruano hoje nonagenário foi o líder da busca e reflexão derivadas desta pergunta. É, portanto, considerado o pai da teologia da libertação.
O método que segue esta teologia consiste primeiramente em ver a realidade e analisá-la com o auxílio das ciências sociais. Não se pode pensar a fé idealisticamente, a partir de bem-intencionados desejos. É preciso discernir os fatos, as causas e a razão pela qual se produzem os efeitos que dividem a sociedade e a ferem dolorosamente com a injustiça. Essa análise da realidade é então confrontada à revelação presente nas Escrituras, procurando perceber as convergências e divergências entre o plano de Deus e a realidade histórica. Tudo isso deve levar ao compromisso e à ação para transformar a história a fim de fazê-la mais sintonizada com o desejo salvador e amoroso de Deus.
De compromissos entende bem o padre Gustavo. Há cinquenta anos vive com fidelidade inquebrantável a opção preferencial pelos pobres, pondo ao serviço destes sua inteligência e capacidade sob a forma de teologia. Por essa fidelidade muitas vezes enfrentou problemas, incompreensões, perseguições, inclusive dentro da Igreja. Jamais se afastou do caminho que entendeu ser sua vocação e da pergunta que lhe queimava o coração e as entranhas: Onde dormirão os pobres?
Líder inconteste da teologia latino-americana, Gustavo Gutiérrez celebra seus noventa anos ainda em atividade. Escreve, dá entrevistas, orienta jovens vocações teológicas. Sempre com alegria contagiante e admirável entusiasmo. Em suas conferências leva um pequeno pedaço de papel com quatro anotações. A partir delas é capaz de falar ininterruptamente por duas horas sem que a audiência perca o interesse por um minuto sequer.
Há pouco tempo foi recebido pessoalmente pelo Papa Francisco. Ali foi selado o fim de um período de injusta desconfiança que possa haver pesado sobre sua teologia. Trata-se de um patriarca, um sábio, uma figura inspiradora e admirável. A Igreja latino-americana e Universal, assim como todos aqueles e aquelas que lutam por uma sociedade mais justa lhe dizem do fundo do coração com admiração e gratidão: Feliz aniversário!
Quem o conhece é imediatamente atraído por sua carismática personalidade e fulgurante inteligência. Igualmente será seduzido por seu humor oportuno e vivaz. De olhar penetrante e terno, esse limenho nonagenário teve uma vida sempre marcada pela superação de alguma dificuldade: seja a osteomielite, que lhe deixou sequelas para caminhar, ou a origem latino-americana, que o situava na periferia do mundo culto e letrado, até a opção de vida pelo sacerdócio, que o fez servir por vinte anos em Rimac, uma paróquia situada em um bairro popular de Lima.
Seus títulos universitários são múltiplos. É graduado em medicina, letras, filosofia, teologia e psicologia. Sua pós-graduação em teologia o levou a universidades na Bélgica, França e Itália, obtendo o título de doutor. Esse galardão máximo do mundo acadêmico lhe foi outorgado outras 23 vezes, sob a forma de doutorados “honoris causa” em diferentes países da América do Norte, Europa e América Latina. Ganhou o prêmio Príncipe de Astúrias. É frade dominicano desde 1998.
Porém, o que faz grande esse peruano de baixa estatura física e gigantismo intelectual é uma pergunta que se tornou o eixo central de sua vida: Onde dormirão os pobres? Atormentado por essa dúvida, ele começou a elaborar uma teologia que partia da práxis do amor cristão e tinha como protagonistas os marginalizados e deserdados de um progresso pervertido e cruel.
Em 1968, como assessor teológico da II Conferência do Episcopado latino-americano em Medellín, Colômbia, Gustavo contribuiu muitíssimo para que a categoria “pobres” se tornasse o centro do documento de conclusões, marcando a prioridade da Igreja latino-americana após o Concilio Vaticano II. Em 1971, publicou seu livro “Teologia da libertação. Perspectivas”, que foi o texto fundador desta corrente teológica que marcou a Igreja do continente.
A opção pelo termo “libertação” é original de Gutierrez. Segundo ele, é mais rica e expressiva que a palavra “desenvolvimento”. Recolhe melhor que esta as profundas aspirações do povo latino-americano para a construção de uma sociedade justa e fraterna. Além disso, a palavra mostrou-se fecunda para nomear uma reflexão teológica que se destinava a colaborar no processo de libertação das grandes maiorias oprimidas.
Pensar a fé na perspectiva da teologia da libertação foi então, desde sempre, uma tentativa de buscar uma resposta para a pergunta: que relação existe entre a salvação e o processo histórico de libertação do ser humano? O teólogo peruano hoje nonagenário foi o líder da busca e reflexão derivadas desta pergunta. É, portanto, considerado o pai da teologia da libertação.
O método que segue esta teologia consiste primeiramente em ver a realidade e analisá-la com o auxílio das ciências sociais. Não se pode pensar a fé idealisticamente, a partir de bem-intencionados desejos. É preciso discernir os fatos, as causas e a razão pela qual se produzem os efeitos que dividem a sociedade e a ferem dolorosamente com a injustiça. Essa análise da realidade é então confrontada à revelação presente nas Escrituras, procurando perceber as convergências e divergências entre o plano de Deus e a realidade histórica. Tudo isso deve levar ao compromisso e à ação para transformar a história a fim de fazê-la mais sintonizada com o desejo salvador e amoroso de Deus.
De compromissos entende bem o padre Gustavo. Há cinquenta anos vive com fidelidade inquebrantável a opção preferencial pelos pobres, pondo ao serviço destes sua inteligência e capacidade sob a forma de teologia. Por essa fidelidade muitas vezes enfrentou problemas, incompreensões, perseguições, inclusive dentro da Igreja. Jamais se afastou do caminho que entendeu ser sua vocação e da pergunta que lhe queimava o coração e as entranhas: Onde dormirão os pobres?
Líder inconteste da teologia latino-americana, Gustavo Gutiérrez celebra seus noventa anos ainda em atividade. Escreve, dá entrevistas, orienta jovens vocações teológicas. Sempre com alegria contagiante e admirável entusiasmo. Em suas conferências leva um pequeno pedaço de papel com quatro anotações. A partir delas é capaz de falar ininterruptamente por duas horas sem que a audiência perca o interesse por um minuto sequer.
Há pouco tempo foi recebido pessoalmente pelo Papa Francisco. Ali foi selado o fim de um período de injusta desconfiança que possa haver pesado sobre sua teologia. Trata-se de um patriarca, um sábio, uma figura inspiradora e admirável. A Igreja latino-americana e Universal, assim como todos aqueles e aquelas que lutam por uma sociedade mais justa lhe dizem do fundo do coração com admiração e gratidão: Feliz aniversário!