Cinco anos de Francisco

Já lá se vão cinco anos que a fumaça branca subiu nos céus de Roma e anunciou a eleição de um novo Papa. Pouco após foi anunciado seu nome à multidão que ali esperava: Jorge Mario Bergoglio, cardeal de Buenos Aires, que escolheria para seu pontificado o nome de Francisco.

Ao dirigir-se aos fiéis que o saudavam efusivamente, chamava a atenção a simplicidade de suas vestes brancas, apenas com um crucifixo de metal ao peito. Nada de casulas bordadas ou ornamentos luxuosos. Apenas a simpatia de um “Boa noite” e o pedido enternecedor de que o povo o abençoasse.

Ao longo destes cinco anos, o Papa que veio “do fim do mundo” não fez mais que confirmar esta primeira impressão que deixou para uma Praça de São Pedro lotada e emocionada. A simplicidade tem sido sua marca, a comunicação franca, direta e alegre seu modo habitual de proceder. Nada de solenidades excessivas e distanciamentos hierárquicos. Mas sim uma maneira autentica e simpática de estar perto das pessoas.

Para muitos católicos a impressão foi, desde o início, que o Concílio Vaticano II estava de volta: presente nas palavras, nos gestos e nas atitudes do novo pontífice. Respirava-se novamente os ares de diálogo e abertura que caracterizaram a revolução iniciada pelo bom e santo João XXIII. Os pobres e a justiça brilharam outra vez como prioridades da Igreja. A esses pobres de muitos rostos – sem teto, refugiados, deficientes, abandonados – o Papa tem voltado de modo privilegiado sua atenção e seu cuidado pastoral.

Para os não católicos, os de outras religiões ou não crentes, o papado atual tem trazido positivas novidades. Certamente jamais haviam visto um papa tão próximo, tão familiar. E seguramente não esperavam ver um chefe de estado com tamanha habilidade diplomática e tanta liderança. Para muitos dos que se encontram fora da Igreja, Francisco é sem dúvida um líder. Para estes e para todos trata-se da única liderança mundial positiva no atual momento da história.

Entre as vítimas da injustiça no mundo atual há uma que se destaca no pontificado de Francisco: os migrantes. Diante da massa de homens e mulheres que atravessam continentes em busca de uma vida melhor para si e suas famílias e que terminam muitas vezes mortos afogados no Mar Mediterrâneo, há todo um serviço organizado de acolhida e atendimento que ocupa a linha de frente da ação do Vaticano regido por Francisco.

Sendo chefe de uma Igreja que muitas vezes dá a impressão de estar fechada e distante dos problemas profundos e íntimos da humanidade, o Papa tem traçado uma linha mestra composta de uma só palavra: misericórdia. Assim o documento Amoris Laetitia, que trata da família e do amor é perpassado do começo ao fim por esse olhar que não é de juízo e punição, mas de acolhida, compreensão, escuta e compaixão.

Para os que acompanham seu itinerário cotidiano, feito de surpresas e novidades contínuas que enlouquecem a assessoria de imprensa, Francisco tem mudado radicalmente a imagem do Papado como instituição. E os jornalistas e fotógrafos correm sem cessar atrás desse Papa que sai do Vaticano e anda pelas ruas, que senta para comer um sanduíche ao lado do guarda suíço, que instala duchas e máquinas de lavar roupa para os mendigos de Roma. E que além disso carrega a própria maleta, vai a uma ótica para trocar os óculos e usa banheiros públicos quando deles sente necessidade.

Para os pequenos e desvalidos de toda sorte, Francisco, o Papa das surpresas é todo ternura e carinho. Beija as crianças, desce do papa móvel para segurar a mão e abençoar uma das guardas que levou um tombo do cavalo, acaricia os doentes. E diz às jovens mães com bebês de peito que choram durante a missa que por favor amamentem seus filhos pois se choram é porque têm fome.

Após cinco anos desse pontificado-surpresa, evidentemente Francisco é amado e admirado por muitos, mas também não tão benquisto e combatido por alguns. Há quem se sinta incomodado por sua maneira de ser e de pensar. Sua ousadia semeia o temor por entre aqueles que temem perder sua segurança e não desejam sair de sua zona de conforto.

Ele, no entanto, avança firme sem voltar atrás nas decisões tomadas que lhe parecem corretas. Segue adiante com seu sorriso e seu olhar radiante. Sendo um chefe religioso, o Papa tem se mostrado como alguém profundamente humano.
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