"É exaustivo ter que dizer o obvio" A 'Instituição do Sacerdócio' promove a Ministerialidade na Igreja?

"A celebração da quinta-feira santa nos recorda da dimensão do poder serviço, que se inclina para atender as necessidades do irmão e irmã que sofrem, 'lavando os pés', na acolhida e amorosidade que o próprio Jesus testemunhou aos seguidores/as"
"Mas na prática das comunidades, paróquias e catedrais o que vemos? Na celebração da benção dos óleos, há uma superexaltação do ministério ordenado como algo tão sagrado, que coloca os homens clérigos acima de qualquer pessoa, quase um'“super herói'"
"Estamos realizando um longo processo sinodal, de reflexões, escutas e construções coletivas que promovam a ministerialidade na Igreja… mas na prática do cotidiano, continuamos reproduzindo o mesmo sistema hierárquico, que exclui as mulheres e os leigos"
"Não há nenhuma razão ou obstáculo que impeça às mulheres de assumirem papéis de liderança na Igreja: o que vem do Espírito Santo não será impedido" (Documento final do Sínodo sobre a Sinodalidade, Nº 60)
"Estamos realizando um longo processo sinodal, de reflexões, escutas e construções coletivas que promovam a ministerialidade na Igreja… mas na prática do cotidiano, continuamos reproduzindo o mesmo sistema hierárquico, que exclui as mulheres e os leigos"
"Não há nenhuma razão ou obstáculo que impeça às mulheres de assumirem papéis de liderança na Igreja: o que vem do Espírito Santo não será impedido" (Documento final do Sínodo sobre a Sinodalidade, Nº 60)
| Ir. Michele da Silva - ICM
A cada ano celebramos com alegria a caminhada da quaresma até a páscoa, tendo como centro a semana santa, que nos introduz no mistério pascal de Cristo, e nos abre para a dinâmica de renovação da fé e da esperança em nossa vida cristã.
A celebração da quinta-feira santa faz memória do Cristo que partilha o seu corpo e sangue, como sustento para nossa missão, pão que deve ser repartido entre todas as pessoas, na igualdade, no amor e na justiça. Nos recorda da dimensão do poder serviço, que se inclina para atender as necessidades do irmão e irmã que sofrem, “lavando os pés”, na acolhida e amorosidade que o próprio Jesus testemunhou aos seguidores/as.

Mas na prática das comunidades, paróquias e catedrais o que vemos? Na celebração da benção dos óleos, há uma superexaltação do ministério ordenado como algo tão sagrado, que coloca os homens clérigos acima de qualquer pessoa, quase um “super herói”, sem eles não teríamos comunidade ou eucaristia, na procissão de entrada, reconhecimento e todas as honrarias, que continuam nutrindo e legitimando o lugar privilegiado do patriarcado.
Em toda a celebração do Tríduo Pascal a figura masculina, do ministro ordenado é o centro, salvo em lugares onde existe a necessidade da celebração por leigas(os) e religiosas(os), em alguns momentos parece que o mistério pascal de Cristo, fica em segundo plano, perdido em vestes resplandecentes e ritualismos vazios de sentido. Onde nos perdemos? Como podemos recuperar o valor da comunidade circular?
"Estamos realizando um longo processo sinodal, de reflexões, escutas e construções coletivas que promovam a ministerialidade na Igreja… mas na prática do cotidiano, continuamos reproduzindo o mesmo sistema hierárquico, que exclui as mulheres e os leigos"
Estamos realizando um longo processo sinodal, de reflexões, escutas e construções coletivas que promovam a ministerialidade na Igreja, mas na prática do cotidiano, não visualizamos quase nenhum progresso significativo, continuamos reproduzindo o mesmo sistema hierárquico, que exclui as mulheres e os leigos, “podem continuar na figuração do lava-pés”!
Sonhamos com uma Igreja Ministerial, acolhedora, com relações circulares e inclusivas, no entanto, nossas vozes continuam sendo silenciadas, interrompidas e desqualificadas, assim como nosso papel de mulheres na Igreja, seguiremos “arrumando as flores e a ornamentação”? Acredito que não, todos os serviços são importantes na vida das comunidades, mas as mulheres têm o direito de estarem onde sentirem-se chamadas!
É exaustivo ter que dizer o obvio, ser uma mulher que incomoda, e que provoca a reflexão, porém, quem quer mudanças precisa começar a questionar o sistema imposto, precisamos nos abrir como Igreja, escutar as vozes e anseios das mulheres, legitimar o nosso lugar de direito e fato. O que impede as mulheres concretamente de assumirem todos os serviços nas comunidades? “A benção de quem”.

“Não há nenhuma razão ou obstáculo que impeça às mulheres de assumirem papéis de liderança na Igreja: o que vem do Espírito Santo não será impedido” (Documento final do Sínodo sobre a Sinodalidade, Nº 60).
"Nossas vozes continuam sendo silenciadas, interrompidas e desqualificadas, assim como nosso papel de mulheres na Igreja, seguiremos 'arrumando as flores e a ornamentação'?"
Todos os ministérios são importantes na Igreja e devem ser incentivados e valorizados, a vocação é um dom precioso que Deus nos concede, mas para nós mulheres é negado uma parte, não temos o direito de escolher totalmente o que o sopro da Divina Ruah nos indica, ficamos limitadas ao que “podemos fazer conforme as regras”!.
Apesar da dureza e provocações deste texto, seguiremos sendo mulheres da esperança, da amorosidade e da sororidade, não queremos destruir os processos, queremos ser protagonistas na igualdade, dar pleno êxito nos belos escritos que saem dos grandes encontros e sínodos da Igreja. Existem várias iniciativas que precisam de visibilidade e apoio, as mulheres estão construindo processos, podemos caminhar juntas e juntos, numa ciranda onde todas(os) tenham direito, voz e vez, construir uma Igreja Sinodal e Ministerial é possível, quando todas as pessoas se reconhecem no discipulado de iguais, nas diferenças assumir a mesma missão de Cristo.
"Apesar da dureza e provocações deste texto, seguiremos sendo mulheres da esperança, da amorosidade e da sororidade, não queremos destruir os processos, queremos ser protagonistas na igualdade"
Desejo que possamos caminhar com Cristo na sua paixão, morte e ressurreição e no domingo de páscoa, uma nova vida surja com a esperança de que somos cuidadores da vida e dinâmica das comunidades, com a mesma dignidade, de mulheres e homens que continuam a missão de Jesus, no respeito, na acolhida e na luta pela construção de um mundo melhor.

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