A Rede “Ecclesia in America” aperta mais seus nós e sua trama, incluindo a todos Uma rede lançada ao norte e ao sul
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Seis anos depois, essa Rede reuniu-se pela segunda vez em San Diego, California, colocando lado a lado teólogos e teólogas do sul e do norte desta imensa América para dialogar e debater questões mais do que atuais à luz da fé comum, da pertença eclesial e da atenção vigilante carregada de preocupação com os rumos que vai tomando o continente e para além dele, o mundo inteiro
Tendo a Sinodalidade como pano de fundo, os participantes do congresso focaram suas discussões sobre três subtemas: mobilidade humana, diálogo e novos cenários
Após vivenciar esses fatos, a Rede “Ecclesia in America” aperta mais seus nós e sua trama, incluindo a todos, começando pelos que estão nesse momento ameaçados. Para que ninguém se perca, para que ninguém fique para trás. Assim pede o Papa Francisco, assim se configura o sonho de uma Igreja Sinodal
Após vivenciar esses fatos, a Rede “Ecclesia in America” aperta mais seus nós e sua trama, incluindo a todos, começando pelos que estão nesse momento ameaçados. Para que ninguém se perca, para que ninguém fique para trás. Assim pede o Papa Francisco, assim se configura o sonho de uma Igreja Sinodal
| Maria Clara Bingemer
A palavra “rede” pode ter vários significados: balanço de tela entretecida que aconchega o corpo para descansar e dormir; recipiente com aberturas e nós feito para arrastar peixes ao barco ou à praia; tela que a aranha tece e se transforma em teia; ligações entre máquinas que se comunicam de perto e ao longe, ao lado ou à distância.
Porém. aqui e agora, a rede da qual falamos é plataforma de conexões humanas inspiradas e movidas por movimentos e inspirações divinos e espirituais. Com o nome de “Rede Ecclesia in America” fora fundada e se reunira por primeira vez na PUC-Rio em 2019. A pandemia impediu que a Rede estreitasse seus nós pela presença e a conversação presencial. Agora, seis anos depois, essa Rede reuniu-se pela segunda vez em San Diego, California, colocando lado a lado teólogos e teólogas do sul e do norte desta imensa América para dialogar e debater questões mais do que atuais à luz da fé comum, da pertença eclesial e da atenção vigilante carregada de preocupação com os rumos que vai tomando o continente e para além dele, o mundo inteiro.

O tema não podia ser mais instigante e abrangente. Como pano de fundo esteve sempre o Sínodo sobre a sinodalidade que o Papa Francisco lançou e acompanhou com desvelo durante vários anos. Sinodo quer dizer caminho conjunto. Para que a Igreja entrasse nesse movimento sinodal, foram realizadas “escutas” e “conversas no Espírito” em todos os segmentos eclesiais, desde paróquias, passando por dioceses, conferencias episcopais até chegar às duas sessões plenárias que se realizaram em anos consecutivos. De todo este processo saiu um documento de trabalho e depois um documento final que deverá inspirar toda a Igreja. A sinodalidade não é então apenas um tema que ocupou as discussões de um sínodo, mas é o modo verdadeiro de toda a Igreja ser.
Tendo a Sinodalidade como pano de fundo, os participantes do congresso focaram suas discussões sobre três subtemas: mobilidade humana, diálogo e novos cenários. Sob a convicção de que o mundo mudou e a teologia de qualquer latitude tem que encontrar renovadas respostas para as novas perguntas que são feitas, as jornadas de trabalho procuraram refletir sobre estes novos cenários e dialogar sobre eles.

É tempo de desassossego neste lugar, onde famílias temem ser separadas, pessoas se apavoram diante da possibilidade de ser deportadas de volta a seus países de origem de onde saíram porque ali não conseguiam mais viver nem dar uma vida digna para seus filhos. A proximidade geográfica e a inserção local serviram de combustível para reflexões profundas e reveladoras da necessidade de compromissos firmes.
Ao lado disso, as análises políticas apresentadas pelos teólogos do campo da Ética ajudavam a situar os acontecimentos: os novos populismos se perfilam mais fortes e se levantam tanto ao sul como ao norte, propiciando polarizações e conflitos novos que impactam sobre a configuração social e religiosa. Uma nova intersecção entre religião e política instiga a teologia a não permanecer ancorada no passado e abrir os olhos para situações muito mais complexas.
Em todo tempo e a toda hora, o diálogo aparecia como pedra fundamental do desejo de união e reciprocidade. As alteridades se revelaram como enriquecedoras. Como teólogos nos sentíamos desafiados a ir mais longe em conhecimento e compreensão. Sair do mesmo e ir em direção ao outro, incluir o diferente, o “terceiro”, o externo e abraçar sua identidade étnica, cultural, religiosa revela-se como imperativo para construir uma América que se autocompreenda como unida e conectada em sua espinha dorsal.
Ao final do congresso, a participação na missa celebrada na paróquia universitária depositou um selo sobre a experiencia vivida: a igreja local de San Diego procura, através de paróquias sinodais, espalhar o espírito da sinodalidade, do caminhar juntos como irmãos, por toda a diocese. E para isso nesse exato dia organizava uma marcha que tinha por lema: “The Church stands with the immigrants” (A Igreja está com os imigrantes). A marcha que convocou milhares de pessoas permitiu a teólogos e teólogas do norte e do sul da América aterrissar na realidade e repensar desde aí sua teologia.
Após vivenciar esses fatos, a Rede “Ecclesia in America” aperta mais seus nós e sua trama, incluindo a todos, começando pelos que estão nesse momento ameaçados. Para que ninguém se perca, para que ninguém fique para trás. Assim pede o Papa Francisco, assim se configura o sonho de uma Igreja Sinodal.
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