Assassinato e exclusão de jovens negros... (Cf. Ronilso Pacheco)
A morte dos jovens negros entrou em pauta, mas não teve nenhum efeito prático no sentido da redução e do atendimento. O Estado nunca é responsabilizado em nada.
Mortes, chacinas, execuções... tudo é tratado como "casos pontuais e isolados”. O Estado sempre recorre à individualização da culpa dos agentes da ponta – ou são maus policiais, ou são fatalidades que acontecem com quem está no fogo cruzado de territórios onde há conflitos, ou são escolhas individuais pelo mundo do crime, do tráfico, etc. O Estado nunca tem nenhuma responsabilidade em nada.
Não adianta projetos, planos para encher as periferias de quadras poliesportivas, oficinas e cursos profissionalizantes se o povo não tem saúde e moradia. O Estado deve ser responsabilizado pelas vidas ceifadas, e responder por elas.
Pensar políticas públicas para a população negra é quebrar a lógica dissimuladora do racismo. Não é apenas dar oportunidades à população negra. Isso é importante, mas não o suficiente.
Quais as políticas públicas de fomento do empreendedorismo social para as favelas? Por que não pensar uma proposta de orçamento participativo para as favelas, em que os gastos públicos para ali destinados sejam discutidos com a comunidade local? E por que não um campus universitário dentro das favelas e bairros de periferia, onde o ensino tenha um recorte racial (professores e bibliografia), com ênfase na construção e transmissão de conteúdo a partir do local? Uma favela não pode ter uma escola de arquitetura? As alternativas são muitas, mas pensar políticas públicas para as comunidades de periferias, e da população negra, é investir em segurança pública.
As cotas foram ótimas, e devemos celebrar. Mas, procure pelos professores negros nas universidades! Procure por pensadores negros na bibliografia obrigatória (diga uns 10 nomes que não sejam Milton Santos, Abdias Nascimento e Muniz Sodré). Os alunos entram na universidade, mas o racismo continua lá dentro, dissimulado e sorrateiro. A estrutura de pensamento e o lugar de poder é todo branco.
As cotas não podem continuar sendo tudo o que temos. Isso é só o início de uma política de reparação, que precisa vir de fato com outras ações. As cotas não é tudo o que pode ser feito, depois de tanto tempo de usurpação do direito dos negros e negras e ocuparem os lugares de poder e decisão na estrutura social.
As cotas têm mostrado resultado e isto deve ser comemorado. Mas enganam-se aqueles que pensam que vamos ter como suficientes a entrada pura e simples na universidade, o acesso puro e simples a uma vaga em um concurso público, como quem diz: "Pronto, já conseguiram entrar. Era isso que queriam, então, já foi concedido”. De forma alguma, Os espaços ocupados não é dádiva, mas direito, e ainda há mais ações e esforços de reparação a serem empreendidos. Isto não deve ser visto como nenhuma facilitação, mas o reconhecimento público e político de uma desigualdade que se prolonga por muito tempo.
Quem sempre foi excluído quer muito mais!
E você o que pensa sobre este assunto?