26º DTC: PRESENÇA PROVOCATIVA DE JESUS... (cf. Pe. A. Palaoro SJ)

Os cobradores de impostos e as prostitutas entrarão antes de vós no Reino de Deus... (Mt 21,31


A frase acima é uma das mais cortantes, proferida por Jesus aos chefes religiosos. Os cobradores de impostos e as prostitutas constituíam as duas classes de pessoas mais odiadas e que sofriam maior preconceito na sociedade religiosa de seu tempo.

Com sua presença e ternura Jesus quebra as atitudes preconceituosas que delimitam friamente os espaços e alimentam proibições que impedem a manifestação da vida. Jesus provoca grande escândalo nos seus ouvintes, sobretudo entre os fariseus, sacerdotes e anciãos do povo, que se consideravam superiores aos outros. Eles apresentavam-se como modelos para o povo. É duro viver ao lado de um fundamentalista, porque igualmente duro é o seu “deus”.

Há um monstro que habita nas profundezas de nosso ser: o preconceito, pois limita a realidade, aumenta as distâncias, estreita o coração.

O preconceituoso está sempre petrificado em suas deformadas opiniões; são dogmáticos, fervorosos, e muitos deles fundamentalistas, com hostilidade e intolerância religiosa. Cegos para a verdade, eles preferem o autoengano ao conhecimento de fato. Não suportam a coexistência das diferenças, a pluralidade de opiniões e posições, crenças e ideias.

Jesus, pelo seu modo de ser e pela sua pregação, toca as profundezas da vida. Ele convive, a maior parte de seu tempo, com aqueles que não tinham lugar dentro do sistema social-religioso existente. Ele se coloca ao lado dos excluídos e dos últimos da história: acolhe os “imorais” (prostitutas e pecadores), os “marginalizados” (leprosos e doentes), os “hereges” (samaritanos e pagãos), os “colaboradores” (publicanos e soldados), os “fracos e os pobres” (que não tem poder nem saber); os que não tem lugar passam a ser incluídos.

Jesus se revela “excêntrico” com relação aos sistemas, poderes e costumes de seu tempo, e isto numa dupla dimensão: 1ª O centro, para Jesus, está nas margens; 2ª Os marginalizados e excluídos são trazidos por Ele para o centro.

Jesus assume a tal ponto a indigência e a fragilidade do ser humano, que aqueles que o encontram reconhecem estar diante de um homem profundamente humano. Jesus “entra” na realidade, sem discriminá-la nem reclassificá-la. Acolhe tudo quanto é desprezível e aparentemente desprovido de valor. Sua visão de vida não o afasta da realidade; manteve-se sempre em contato com a fragilidade da existência; sentou-se à mesa com pecadores e misturou-se com prostitutas; voltou-se para aqueles pelos quais as pessoas não nutriam qualquer interesse: os pobres, os oprimidos, os excluídos...

Jesus derruba as barreiras da religião e raça. O Reino de Deus encarna-se na história dos pequenos e desprezados. O vinho novo faz arrebentar os odres velhos.

A partir da fragilidade, Jesus impulsiona o salto para a vida. O ser humano quando se reconhece fraco e limitado é que se abre para Deus e para os outros.

No seu “exceder-se”, Jesus abraçou diferenças e novos horizontes. Convidou-nos a tomar consciência da ação de Deus em lugares e pessoas que estamos inclinados a evitar: cobradores de impostos, doentes, prostitutas, pecadores e pessoas de todos os tipos, que eram marginalizadas e excluídas. Jesus “deslocou” Deus do Templo para as periferias.

Em Jesus e nos seus seguidores, Deus se revela como aquele que corre ao encontro dos que estão perdidos.
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