27º DTC: SOMOS SERES DE GRATUIDADE... (Pe. A. Palaoro SJ)

O evangelho nos propõe uma atitude que, à primeira vista, parece inaceitável: o empregado não deve reclamar. Simples servidor do Reino, tem de fazer seu serviço, sem discutir.

Mas a intenção de Jesus é outra: Ele aponta para a dedicação integral no servir e desmascarar a atitude daquele que, no serviço do Reino, busca seus próprios interesses, alimenta sua vaidade e busca ser o centro das atenções.

Trabalhar para buscar o louvor e o interesse próprio esvaziam o sentido da missão em favor da evangelização. O fundamental é ativar o espírito de serviço e disponibilidade, que nunca poderá ser pago. Quem vive o Evangelho nunca acha que está fazendo demais para os outros.

Generosidade, gratuidade, doação: palavras quase desconhecidas em nosso contexto social. Mas são elas que nos levam em direção aos outros. São elas que nos afastam da vaidade e do egoísmo e. por serem mais afetivas e espontâneas revelam-se na ação alargando o nosso coração, até dilatar-nos às dimensões do universo. Jesus veio, não para ser servido, mas para servir e dar sua vida pelo mundo.

Somos simples servidores...”. Servindo com simplicidade, não em função de compensações egoístas, mas em função da retidão, da fidelidade e da gratuidade, seremos indispensáveis para o projeto de Deus. Esta é a grandeza e recompensa do servidor no grande trabalho que realiza em favor do Reino: ultrapassar-se sempre, mas no amor; o êxito? Entregue-o a Deus.

É o Senhor quem realiza em nós o querer e o fazer, para além de nossa boa disposição (Fl 2, 13).

A grandeza, a dignidade, a capacidade redentora de toda atividade em favor dos outros provém do fato de ser vivido numa profunda união pessoal com Cristo e com o desejo intenso de que nossa ação esteja em sintonia com a vontade e a glória do Pai.

O chamado de Jesus é para “co-laborar”, trabalhar com Ele. Deste chamado ninguém é excluído (“chama todos e cada um em particular”, disse nosso pai santo Inácio). O trabalho se define pelo afeto pessoal a Jesus e a identificação com seu projeto libertador.

Eis algumas indicações para fazer do serviço ao Reino uma “experiência espiritual”: pureza de intenção, com motivações gratuitas (por que faço isso? para quem faço?...); capacidade de “contemplar”, crescer em gratuidade e relativizar compensações...

A gratidão nos motiva a viver o trabalho como serviço, libertando-o radicalmente de suas dimensões de rotina e esvaziando-o de toda pretensão egoísta.

Quando vivemos o trabalho a partir da gratidão, o esforço brota de um modo mais natural e espontâneo, “cansa” e “desgasta” menos.

Se vivemos a partir da gratidão, ficaremos menos “dependentes” da compensação. Como dizia S. Inácio aos estudantes de Coimbra, “são outros os soldos” que nos compensam.

Uma tentação sutil é esperar reconhecimento pelo serviço prestado. Para estes, o entusiasmo e élan apostólico dependem da gratificação e, ao invés de buscar agradar a Deus, buscam-se recompensas humanas.

A verdadeira maturidade espiritual coincide com o sentido da gratuidade, ajustando-se ao modo de agir de Deus, superando todo auto-centramento e voluntarismo.

O ser humano, tal como Deus, é fundamentalmente um ser de gratuidade.
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