28º DTC: O agradecimento é a memória do coração... (Pe. A. Palaoro SJ)
...atirou-se aos pés de Jesus, com o rosto por terra e lhe agradeceu...
A tradição judaica transmite este ensinamento:
“Aquele que desfruta de um bem qualquer neste mundo sem dizer antes uma oração de gratidão ou uma benção, comete uma injustiça”.
A ação de graças está no coração da liturgia e da oração cristãs. E o maior drama de um ateu é não ter a Quem agradecer.
Tudo é dom e graça de Deus, por isso se esquecer de agradecer é passar ao lado da maior beleza da vida. Agradecer é muito que dar graças, pois implica em reconhecimento e correspondência. Onde não há gratidão, o dom fica perdido (Bruno Forte).
Lucas situa o relato de hoje no caminho de subida a Jerusalém, no limite entre Galiléia e Samaria, lugar chave de disputas religiosas. Os leprosos que saem ao encontro de Jesus e gritam pedindo-lhe que os cure, são dez. Significativamente, a lepra não distingue entre judeus e gentios, galileus e samaritanos. Todos são irmãos na miséria.
No relato identificamos os mesmos componentes presentes em outras narrações semelhantes de curas: 1. Apresentação da situação de enfermidade (“dez leprosos vieram ao seu encontro”); 2. Petição de cura (“Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!”); 3. Intervenção de Jesus (“Ide apresentar aos sacerdotes...”); 4. Cura (“enquanto caminhavam, aconteceu que ficaram curados”); 5. Reação diante do milagre.
Este último elemento está mais desenvolvido na cena, e enfatiza o contraste da atitude de um dos leprosos (um samaritano que volta para agradecer a Jesus) com a dos outros nove. Na realidade, os outros nove leprosos curados não fazem senão cumprir as instruções de Jesus: ir e apresentar-se aos sacerdotes. Mas só um tem a suficiente finura espiritual para reconhecer profundamente o dom recebido e, deixando de lado as prescrições legais, dá primazia à expressão de agradecimento.
A gratidão parece apresentar-se aqui como um “plus”, como algo que deveria brotar com naturalidade nas relações humanas, e não como uma atitude estatisticamente minoritária (um entre dez). O samaritano sente que começa uma vida nova, podendo viver de maneira mais digna e ditosa.
Esta é a fé do samaritano que confia em Jesus, que crê no agradecimento mais que nas leis do sistema religioso. O agradecimento como atitude vital requer uma especial sensibilidade espiritual. Caberia perguntar as razões que dificultam esta vivência da gratidão, quando esta deveria brotar de modo espontâneo e natural perante tanto bem recebido.
Numa carta de S. Inácio a um de seus primeiros companheiros, Simão Rodrigues, diz:
“À luz da divina bondade me parece que a ingratidão é o mais abominável dos pecados aos olhos de nosso Criador e Senhor, e de todas as criaturas capazes de aproveitar-se em sua divina e eterna glória. O esquecimento das graças, bens e bênçãos recebidas e causa e começo de todos os pecados e desgraças. Pelo contrário, a gratidão que reconhece as bênçãos e bens recebidos é estimada e amada não só na terra senão também no céu” (18/MAR/1542).
A gratidão nasce com naturalidade e espontaneidade nos corações humildes, nas pessoas conscientes de que aquilo que recebem não é por mérito ou retribuição. Tudo é gratuidade e Graça.
Marcada pela gratidão, a pessoa deseja sempre corresponder o melhor, rejeitando todo tipo de mediocridade na entrega e no serviço.
O agradecimento é uma atitude fundante e fecunda que possibilita viver o cotidiano com outro “sabor”, com outro “ar”. Do agradecimento brota um estado interior de consolação, de disponibilidade, de agilidade em dar resposta às demandas da vida, de uma sensibilidade mais viva para perceber tudo aquilo que a vida cotidiana tem de dom e sem ansiedade por não receber compensações ou recompensas.
O agradecimento, como atitude básica na vida, é a tomada de consciência daquilo que estamos recebendo, a acolhida dos bens que nos são dados e das pessoas que nos vem ao encontro. É a experiência humana que mais ativa a generosidade.
Viver “agradecidamente” não nos é favorecido pela cultura consumista que nos incita a estar sempre mais dependentes daquilo que não temos e não tanto daquilo que nos é dado com abundância; uma cultura que fomenta e aviva uma eterna insatisfação, matando a capacidade de “recordar tantos benefícios recebidos pela criação, redenção e dons particulares” (S. Inácio).
O que é que se encontra “de graça”? Onde? Quem pratica essa aventura da “mão aberta”, da largueza de coração? Aqueles que não conhecem a palavra “gratuito” são petrificados frente à gratidão. São surdos e mudos para o “muito obrigado”.
Gratidão é alegria e amor. Que virtude mais leve, mais luminosa, mais humilde, mais feliz! Gratidão = desfrutar a eternidade no cotidiano da vida.
Nossa missão é pensar e falar agradecidamente, e ter gestos de gratuidade com todos.
A tradição judaica transmite este ensinamento:
“Aquele que desfruta de um bem qualquer neste mundo sem dizer antes uma oração de gratidão ou uma benção, comete uma injustiça”.
A ação de graças está no coração da liturgia e da oração cristãs. E o maior drama de um ateu é não ter a Quem agradecer.
Tudo é dom e graça de Deus, por isso se esquecer de agradecer é passar ao lado da maior beleza da vida. Agradecer é muito que dar graças, pois implica em reconhecimento e correspondência. Onde não há gratidão, o dom fica perdido (Bruno Forte).
Lucas situa o relato de hoje no caminho de subida a Jerusalém, no limite entre Galiléia e Samaria, lugar chave de disputas religiosas. Os leprosos que saem ao encontro de Jesus e gritam pedindo-lhe que os cure, são dez. Significativamente, a lepra não distingue entre judeus e gentios, galileus e samaritanos. Todos são irmãos na miséria.
No relato identificamos os mesmos componentes presentes em outras narrações semelhantes de curas: 1. Apresentação da situação de enfermidade (“dez leprosos vieram ao seu encontro”); 2. Petição de cura (“Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!”); 3. Intervenção de Jesus (“Ide apresentar aos sacerdotes...”); 4. Cura (“enquanto caminhavam, aconteceu que ficaram curados”); 5. Reação diante do milagre.
Este último elemento está mais desenvolvido na cena, e enfatiza o contraste da atitude de um dos leprosos (um samaritano que volta para agradecer a Jesus) com a dos outros nove. Na realidade, os outros nove leprosos curados não fazem senão cumprir as instruções de Jesus: ir e apresentar-se aos sacerdotes. Mas só um tem a suficiente finura espiritual para reconhecer profundamente o dom recebido e, deixando de lado as prescrições legais, dá primazia à expressão de agradecimento.
A gratidão parece apresentar-se aqui como um “plus”, como algo que deveria brotar com naturalidade nas relações humanas, e não como uma atitude estatisticamente minoritária (um entre dez). O samaritano sente que começa uma vida nova, podendo viver de maneira mais digna e ditosa.
Esta é a fé do samaritano que confia em Jesus, que crê no agradecimento mais que nas leis do sistema religioso. O agradecimento como atitude vital requer uma especial sensibilidade espiritual. Caberia perguntar as razões que dificultam esta vivência da gratidão, quando esta deveria brotar de modo espontâneo e natural perante tanto bem recebido.
Numa carta de S. Inácio a um de seus primeiros companheiros, Simão Rodrigues, diz:
“À luz da divina bondade me parece que a ingratidão é o mais abominável dos pecados aos olhos de nosso Criador e Senhor, e de todas as criaturas capazes de aproveitar-se em sua divina e eterna glória. O esquecimento das graças, bens e bênçãos recebidas e causa e começo de todos os pecados e desgraças. Pelo contrário, a gratidão que reconhece as bênçãos e bens recebidos é estimada e amada não só na terra senão também no céu” (18/MAR/1542).
A gratidão nasce com naturalidade e espontaneidade nos corações humildes, nas pessoas conscientes de que aquilo que recebem não é por mérito ou retribuição. Tudo é gratuidade e Graça.
Marcada pela gratidão, a pessoa deseja sempre corresponder o melhor, rejeitando todo tipo de mediocridade na entrega e no serviço.
O agradecimento é uma atitude fundante e fecunda que possibilita viver o cotidiano com outro “sabor”, com outro “ar”. Do agradecimento brota um estado interior de consolação, de disponibilidade, de agilidade em dar resposta às demandas da vida, de uma sensibilidade mais viva para perceber tudo aquilo que a vida cotidiana tem de dom e sem ansiedade por não receber compensações ou recompensas.
O agradecimento, como atitude básica na vida, é a tomada de consciência daquilo que estamos recebendo, a acolhida dos bens que nos são dados e das pessoas que nos vem ao encontro. É a experiência humana que mais ativa a generosidade.
Viver “agradecidamente” não nos é favorecido pela cultura consumista que nos incita a estar sempre mais dependentes daquilo que não temos e não tanto daquilo que nos é dado com abundância; uma cultura que fomenta e aviva uma eterna insatisfação, matando a capacidade de “recordar tantos benefícios recebidos pela criação, redenção e dons particulares” (S. Inácio).
O que é que se encontra “de graça”? Onde? Quem pratica essa aventura da “mão aberta”, da largueza de coração? Aqueles que não conhecem a palavra “gratuito” são petrificados frente à gratidão. São surdos e mudos para o “muito obrigado”.
Gratidão é alegria e amor. Que virtude mais leve, mais luminosa, mais humilde, mais feliz! Gratidão = desfrutar a eternidade no cotidiano da vida.
Nossa missão é pensar e falar agradecidamente, e ter gestos de gratuidade com todos.