2º Domingo de Quaresma: Tempo de nutrir-se interiormente... (Lc 13, 1-9) (cf. Pe. A. Pallaoro SJ)

Comprovamos hoje um “déficit de interioridade”. Vivemos num contexto social e cultural no qual o ritmo frenético imposto, não favorece o acesso à nossa própria interioridade. Seduzidos por estímulos, envolvidos por apelos, cativados pela mídia e pelas inovações vamos esvaziando, diluindo e perdendo a interioridade. Desumanizamos. Vítimas da “síndrome da exteriorização existencial”, temos dificuldades do silêncio e da reflexão. Não somos capazes de velejar nas águas da interioridade, vivendo uma vida superficial e sem sentido.E isso gera um vazio existencial e espiritual.

Tal como a figueira da parábola do evangelho deste domingo, a vida vai se atrofiando e se ressecando, porque não recebe seiva do seu interior. É pura folhagem, pura aparência e sem frutos.

No Tempo Quaresmal encontra-se re-descoberta do mundo interior, desconhecido e surpreendente, onde acontece o mais importante e decisivo de cada um.

Conduzindo-nos a viver a experiência no deserto com Jesus, a liturgia quaresmal revela que toda pessoa possui dentro de si uma profundidade que é seu mistério íntimo e pessoal. Por isso, “viver em profundidade” significa entrar no âmago da própria vida, “descer” até às raízes da própria existência e chegar à fonte de água viva que ativa uma nova seiva, fazendo surgir novos brotos e novos frutos.

É no “eu mais profundo” que as forças vitais se acham disponíveis para ajudar a pessoa a crescer dia-a-dia; é aqui que ela experimenta a unidade de seu ser; aqui é o lugar da transcendência, onde realmente acontece uma profunda transformação. Trata-se da dimensão mais verdadeira de si, a sede das decisões vitais, o lugar das riquezas pessoais, onde a pessoa vive o melhor de si mesma, onde se encontram os dinamismos do seu crescimento, onde brotam as aspirações e desejos fundamentais…

A vida está oculta nas profundezas. A pessoa superficial se confunde com as aparências e não dá frutos. A pessoa de interioridade vive a partir da raiz, da fonte da vida, e deixa vir à tona suas riquezas, dons e capacidades… Esta região profunda coincide com o mundo das certezas, dos valores, das idéias-força… que formam o eixo de nossa existência, o melhor de nós, o lugar de nossa recuperação e de nossa realização.

Quem “desce” até sua interioridade, os abismos do inconsciente e da escuridão de seu lado sombrio, este está “subindo” para Deus, e faz a experiência do encontro. Nossas profundidades estão habitadas pelo infinito.

É Ele que “cava” no nosso coração o espaço amplo e profundo para nos comunicar a sua própria interioridade.

“Descer” às raízes é oportunidade privilegiada para conhecer nosso reino interior habitado pela profundidade do Criador. O caminho para uma nova qualidade de vida passa pelo encontro com as próprias raízes. Este é o caminho da espiritualidade que brota do “húmus” da terra.
Dentro de nós encontramos forças construtivas que podem mudar-nos eficazmente. É preciso escavar, alimentar e deixá-las aflorar espontaneamente. Esse é o nível da graça, e da gratuidade.

A imagem da figueira destaca também a paciência do agricultor. Lucas é o evangelista da misericórdia, e ela se faz visível no cuidado esmerado do agricultor para com a figueira. A pesar de levar “três anos” sem dar fruto, o lavrador continua confiando nela: “vou cavar em volta dela e colocar adubo”.

Na vivência cristã, a terra interior também pode ser cavada, adubada para que seja despertada a verdade pessoal. Revolver a terra é o primeiro requisito para que a árvore dê fruto; o segundo é o adubo.

Provavelmente, o místico Johann Tauler estava pensando nessa parábola quando disse: “Dia após dia, o agricultor leva o esterco ao campo, e, após um ano, o campo dá seus frutos. Aquilo que consideramos o esterco da nossa vida – os fracassos, as coisas pouco vistosas e pouco louváveis – prepara o campo para a nossa árvore da vida e a faz florescer”.

Uma pergunta: O quê alimenta as raízes de sua existência?
Volver arriba