EMBATINADOS E ENCOLARINHADOS... (Pe. Paulo Crozera/Campinas)
Há quem prefira que os padres andem de batina ou, pelo menos o com colarinho eclesiástico para se distinguirem do povo comum. Além disso, há hoje em dia uma excessiva valorização das vestes ou paramentos litúrgicos, cada vez mais pomposos e ricos, cheios de rendas, bordados e babados. Aliás, um padre recém-ordenado chegou a me dizer, com todas as letras: "Os padres devem se vestir como 'noivas'".
Não digo que os padres se vistam de forma indigna ou que não tenham zelo quanto à liturgia, mas o que temos assistido, de modo geral, é um exagero sem medidas. O Papa Francisco tem dado exemplo para nós de que a simplicidade é um valor que salta aos olhos e que, sem dúvida alguma, está muito bem expresso nos Evangelhos, sobretudo nas atitudes de Jesus.
Na realidade, o que parece se pretender com tudo isso é destacar cada vez mais a figura do padre, distanciando-o da vida da comunidade e dos irmãos, para reafirmar um "poder" que não é "serviço", imposto mais pelas aparências do que pelas atitudes e pelo testemunho evangélico. O Papa Francisco tem insistido na proximidade, no envolvimento, desejando que os evangelizadores contraiam o "cheiro das ovelhas" (cf. Eg 24).
O Concílio Vaticano II, ao falar dos presbíteros (padres), diz que eles são "tirados dentre os homens e constituídos a favor dos homens nas coisas que se referem a Deus, para oferecerem dons e sacrifícios pelos pecados, convivem fraternalmente com os restantes homens. Assim também, o Senhor Jesus, Filho de Deus, enviado pelo Pai como homem para o meio dos homens, habitou entre nós e quis assemelhar-se em tudo aos seus irmãos, menos no pecado". Por isso mesmo, o povo deseja o padre no meio de sua comunidade e em sua caminhada, bem próximo deles e se parecendo como um deles, a exemplo de Jesus que "esvaziou-se a si mesmo e tomou a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens" (Fl 2,7).
Os padres devem viver como irmãos entre irmãos, com algo que os faz diferentes não nas aparências, mas no seu ser. Por isso o texto do Concílio continua, dizendo: (Os presbíteros) "não poderiam ser ministros de Cristo se não fossem testemunhas e dispensadores duma vida diferente da terrena, e nem poderiam servir os homens se permanecessem alheios à sua vida e às suas situações. O seu próprio ministério exige, por um título especial, que não se conformem a este mundo; mas exige também que vivam neste mundo entre os homens e, como bons pastores, conheçam as suas ovelhas e procurem trazer aquelas que não pertencem a este redil, para que também elas ouçam a voz de Cristo e haja um só rebanho e um só pastor. Para o conseguirem, muito importam as virtudes que justamente se apreciam no convívio humano, como são a bondade, a sinceridade, a fortaleza de alma e a constância, o cuidado assíduo da justiça, a delicadeza, e outras que o Apóstolo Paulo recomenda quando diz: 'Tudo quanto é verdadeiro, tudo quanto é puro, tudo quanto é justo, tudo quanto é santo, tudo quanto é amável, tudo quanto é de bom nome, toda a virtude, todo o louvor da disciplina, tudo isso pensai' (Fl 4,8)" (Po 3).
Portanto, o que os distingue deve ser a maneira de viver e não simplesmente as "vestes" que ressaltam apenas as aparências. Além disso, não raramente, elas são utilizadas para ocultarem interesses e encobrir a falta de um verdadeiro testemunho de vida. Nenhuma batina impede que o padre viva o "mundanismo" e se afaste do espírito evangélico!
Contemplamos tanto o Crucificado e parece que nos esquecemos que ele morreu nu na cruz! Será que nos esquecemos que ele nos ensinou a simplicidade no modo de viver e de se vestir? Vejam os lírios dos campos... (cf. Mt 6,28).