Santo Inácio de Loyola SJ (1491-1556), fundador da Companhia de Jesus... (II)

Lembrar da própria família quase sempre é bom, pois de algum modo somos o resultado desses entrelaçamentos que nos precederam. Mas, da família de Inácio López de Loyola pouco sabemos, pois ele não disse quase nada sobre isso... Da mãe, ele nunca disse nada... Morreu no parto? Sabemos que dona Marina teve 13 filhos e que Ínhigo (ignis=fogo!) fora o caçula. Sua ama-de-leite, Maria Garín afirmou, no processo de beatificação de santo Inácio que “o pai Inácio tinha alguns anos a mais de quantos ele mesmo cria ter...”

A morte prematura de D. Marina pertence às raízes escondidas da personalidade de Ínhigo e implicou na privação de certas experiências e funções essenciais: proteção, ordem, segurança... É a mãe quem transmite modelos e inspira auto-confiança e sua ausência pode provocar insuficiente crescimento corporal e emocional. Ínhigo, contrariando a média de altura dos bascos, era baixinho: tinha 1,58m. de altura. Um padre cisterciense contemporâneo o chamava carinhosamente de "homenzinho de Deus".

Ínhigo (nome do homem velho; Inácio, do homem novo!) suprirá a figura materna por a de outras figuras femininas: a ama-de-leite e sua ótima cunhada Madalena de Araóz ou aquelas outras piedosas mulheres que o seguiram. A uma delas Inácio chamava, afetuosamente, de "mãe".

Ínhigo não conheceu também seus avós, e o seu pai, Beltrão, morreu quando ele tinha apenas 16 anos.

Outro traço marcante na psicologia de Ínhigo é a de ser o caçula. Desde a data de casamento dos pais até o seu nascimento, passaram 24 anos e nasceram 12 irmãos...

Quais os modelos de vida que Ínhigo assimilou nessa sua família? O ambiente era naturalmente cristão, com as típicas sombras e incoerências da vida e da época. Uma coisa é certa: Ínhigo não nasceu santo nem numa família santa.

E seus irmãos? João, o primogênito e Beltrão, o terceiro, morreram guerreando em Nápoles (+1496); Hernando veio para América, fazer dinheiro e aqui desapareceu. Pedro se tornou sacerdote da paróquia de Azpeitia e, contudo, tinha duas filhas... Suas irmãs? Juanita, Madalena, Petronila e Sancha... O pai deixou, também, dois filhos bastardos... Fé e vida andavam bem separadas nessa família.

Quando o corregedor da Província quis processar Ínhigo e seu irmão padre por delitos enormes acontecidos nos dias de Carnaval do ano de 1515, ele fugiu para Loyola, invocou sua condição de "clérigo" e até apelou ao tribunal eclesiástico para escapar da justiça ordinária. Contudo, o corregedor manteve sua acusação afirmando que Íñigo jamais usara veste de clérigo, andava armado, tinha cabelos cumpridos, roupas vistosas e um gorro vermelho típico do bando dos "oñacinos"... A "tonsura clerical" recebida prematuramente um dia, era só para manter privilégios numa sociedade onde a maioria carecia deles!

O pai de Ínhigo, certamente, ficou satisfeito quando o viu partir para viver no palácio real de Arévalo e viver com a família do ministro do Tesouro Real João Velázquez de Cuéllar, casado com Dona Maria de Velasco, parente dos Loyola. Lá, passou os anos da sua juventude (1506-1517) e se fez homem, no meio do luxo e da vaidade da corte do Rei da Espanha.

E a Igreja daquele tempo, como era? A Igreja não ficava alheia à profunda crise da sociedade e das pessoas e participava dessa mesma decadência, envolta no seu legalismo, superficialidade e mesmice. Nessa mesma época, o frade agostiniano Martinho Lutero (1483-1546), oito anos mais velho que Inácio, desencadeou a Reforma protestante. Ventos impetuosos sacudiram e implodiram a cristandade a partir da Alemanha...

Também em nossos dias a Igreja está em processo de reforma, crescimento e atualização das suas estruturas. O desejo de viver e irradiar a fé cristã, no contexto de um mundo secularizado e “pós-moderno”, exige dos cristãos maior coerência entre fé e vida, numa sociedade irreversivelmente pluralista.

Hoje cresce o desejo de maior unidade entre as diversas Igrejas cristãs, mas por outro lado o fundamentalismo dos novos movimentos religiosos cria maior confusão nos cristãos. O Concílio Vaticano II e as Conferencias Gerais do Episcopado Latino-americano (Rio de Janeiro/1955, Medellim/1968, Puebla/1979, Santo Domingo/1992 e Aparecida/2007) orientaram os rumos do catolicismo contemporâneo buscando maior simplicidade evangélica: Todos somos discípulos missionários!

E no meio desse turbilhão todos, Inácio e nós, somos convidados a responder à mesma pergunta: o que fazer da própria vida?...

Inácio é um convertido. Deus entrou na sua vida muito mais fundo do que aquela bala de bombarda na sua carne, quando ferido na bendita batalha de Pamplona (1521). Quando ele caiu, ruíram sonhos e fantasias mundanas e descobriu aos poucos, que na sua alma havia feridas profundas e mais doídas do que aquelas de seu corpo ferido. Inácio percebeu que Deus o poupara para alguma coisa melhor...

Uma vez curado das feridas da guerra de Pamplona, Inácio retirou-se a Manresa, pequena localidade da terra Catalã, para confrontar sua história de 26 anos de vida com a palavra de Deus. E isso ele fez por quase 9 meses! Foi um segundo nascimento! Sem o saber, iniciara e praticara os Exercícios Espirituais, marca registrada da sua espiritualidade.

Inácio experimentou em profundidade o amor de Deus que o salvava e convidava para ser companheiro do seu Filho. Deus não só o salvara da sua condenação e auto-condenação, mas por pura misericórdia também o chamava para uma missão. “Salvando-me me chamavas; chamando-me me salvavas!...” E, manco como estava, colocou-se, feliz, a caminho do Senhor Jesus!

As seguintes características definem a espiritualidade inaciana:
· Profundo amor pessoal a Jesus Cristo;
· Sensibilidade contemplativa na ação;
· Serviço na Igreja;
· Solidariedade com os mais necessitados;
· Parceria e colaboração com pessoas de boa vontade;
· Apostolado qualificado;
· Liberdade operativa, numa santa audácia.

Uma pergunta: E você, como define a espiritualidade inaciana?
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