MINISTROS DA, PARA E NA IGREJA SEMPRE REFORMADA... (Pe. Paulo Crozera/Campinas)

Questiono-me, algumas vezes, a respeito de certas atitudes reacionárias dentro da Igreja e que me causam profunda decepção. Sempre me pergunto, tentando compreender o posicionamento do grupo dos chamados "conservadores" ou "tradicionalistas", sobre a dificuldade de não aceitarem as reformas estabelecidas pelo Concílio Vaticano II. Tive uma formação teológica realizada com profundo amor à Igreja, bebendo das fontes desse Concílio e concebendo uma Igreja "semper reformanda", constantemente adaptada às circunstâncias do seu tempo e lugar, para anunciar a Jesus Cristo e a seu projeto do Reinado de Deus.

Certa ocasião disse a um amigo: há padres novos que não aceitam a reforma litúrgica do Concílio e querem celebrar a missa tridentina (do Concílio de Trento), em latim e de costas para o povo. Ao que ele me respondeu com veemência: "Essas pessoas se esquecem que aqueles que sabiam o latim foram os que fizeram o Concílio Vaticano II!" E eu sei que, por exemplo, Dom Aloísio Lorscheider escrevia seus discursos em latim, diretamente na máquina de escrever e foi um bispo com uma inteligência rara e exerceu seu ministério em total consonância com as reformas conciliares. Foram esses bispos monumentais, educados na verdadeira Tradição da Igreja, que decidiram no Vaticano II que as celebrações deveriam ser realizadas na língua nativa de cada povo, adaptando-se às suas respectivas culturas.

Os que desejam uma "volta atrás" se apegam a um modelo de padre que é o modelo do "sacerdote", restrito ao culto e ao sacramental. Ou seja, o "sacerdote" como um homem "consagrado para o altar". Isso porque essa posição lhes confere um certo reconhecimento que tem sido cada vez mais questionado em nossa sociedade secularizada e que, ao mesmo tempo, valoriza certa ritualidade mística, venha de onde vier. Nesse sentido, há esoterismos para todos os gostos e cores!

Por isso, a tendência atual é a de valorizar na ordenação mais o gesto da unção das mãos, que é secundário, do que propriamente o da imposição das mãos sobre o ordenado - seguido da oração consecratória, o qual é e sempre foi o gesto mais importante e que constitui o novo ministro ordenado. Pois esse gesto, no caso dos presbíteros une o candidato ao Presbitério, na comunhão com seu bispo e os demais presbíteros. Já, no caso dos bispos, o gesto da imposição das mãos dos demais bispos os unem ao Colégio Episcopal, que sucede ao Colégio dos Apóstolos, presidido pelo sucessor de Pedro, o bispo de Roma, que é o Papa.

Portanto, o ministério ordenado, quer seja do bispo ou do presbítero, é sempre colegial e exercido na corresponsabilidade de todo um Presbitério, numa Igreja Local ou Particular que é chamada de Diocese (ou Arquidiocese). As opções desta Igreja devem estar em primeiríssimo plano, pois cada qual deverá estar a serviço da constituição e da comunhão desta mesma Igreja e não a serviço de meros caprichos e vaidades de um de seus ministros.

Contudo, a meu ver, o que está como pano de fundo desta realidade é a não aceitação de um novo paradigma que emergiu com o Vaticano II. Esse novo paradigma trouxe uma nova concepção da Igreja e de sua missão; e, consequentemente, uma nova concepção dos ministérios exercidos em seu interior e a serviço de sua missão no mundo.
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