Não sou o diabo. Sou Exu... (cf. anônimo?)
Certo que o perfil tão humano de Exu foi via fácil para demonizá-lo, numa maneira superficial e ingênua, mas quem o conhece sabe que é um orixá fundamental na cosmovisão afro-religiosa.
É bem verdade que a imagem do malandro carioca combina com Exu, tratado como o “homem das encruzilhadas”, o “rei da noite”, “aquele que nunca dorme”. Essa descrição marginal tem muito a ver com a situação social da população negra, sobretudo os homens negros, na pós-escravidão.
Como meio de sobrevivência, o que sobrou para alguns foi a contravenção, e mesmo aqueles que conseguiram uma sub colocação, seja no trabalho braçal das ruas, seja nas estivas, sofreram com o estigma da criminalidade.
Exu é o mais controvertido dos orixás, mas preconceitos e estereótipos não definem ninguém. Se a discriminação contra as religiões de matriz africana é grande, com esse orixá é ainda pior. A quantidade de absurdos que se falam sobre Exu ou até as barbaridades que lhe atribuem estão longe de traduzir quem de fato ele é.
“Disseram que eu era o diabo. Não sou diabo nem santo, sou Exu! Muito prazer! Não ligue para o que dizem a meu respeito, tudo mentira! Quem pode me definir se sou a própria contradição? Nem bom nem ruim, nem quente nem frio, nem sombra nem luz! Mas não se engane, não sou meio-termo. Sou tudo e não sou nada! Ousadia é meu nome. Estou sempre pronto, pra luta ou pra farra. Experimentei o melhor da vida, e gostei! Se me disserem que é impossível, vou e faço. Se me pedir, eu dou. Se me agradecer, eu retribuo. Se me der, eu aceito. Se me negar, eu tomo. Aos meus, ensinei a rir da própria sorte, a ter esperança, a acreditar pra ver. Se a vida vai mal, sambo e esqueço. Se vai bem, sambo e festejo! Já te disse meu nome? Sou Exu! Muito prazer!”
Senhor dos caminhos e das encruzilhadas, mensageiro dos orixás, Exu é o dono da rua. Vale lembrar que a encruzilhada tem uma importância simbólica universal, representando o centro e o lugar de passagem entre os mundos dos homens e dos deuses. É a morada de Exu, que tem justamente a tarefa de ligar o sagrado ao profano, sendo o orixá da comunicação e o princípio dinâmico que rege a existência.
No local em que duas ruas se cruzam, Exu recebe suas oferendas, atende e leva os pedidos dos homens aos orixás. Ele que abre os caminhos, por isso é o primeiro a ser cultuado e sem sua permissão nada acontece. As festas de rua, com muita gente, muita bebida e muita alegria, são suas preferidas. É tradição dos terreiros de Candomblé que nenhum fiel brinque o carnaval sem prestar homenagens e reverências a Exu.
Seu símbolo chama-se Ogó. É um porrete de forma fálica que permite a Exu se transportar pra qualquer lugar, a qualquer tempo. Exu fala todas as línguas, conhece todas as dores e compreende todos os sentimentos. Está em cada um e em todos e é o orixá que segue na frente e livra dos riscos e perigos.
Quem tem intimidade com Exu costuma chamá-lo de compadre. A dicotomia excludente de bem e mal é conceito que não se aplica ao Candomblé, pois o mesmo fogo que cozinha, também incendeia.
Exu é o mais humano dos orixás e o mais poderoso dos homens. Aquele que desconhece o impossível, faz o erro virar acerto e o acerto virar erro.
Eu não entendo dessas crenças afro, mas respeito quem as segue...
E você o que diz?