O PERDÃO ATREVIDO E CRIATIVO... (Pe. A. Palaoro SJ)
O perdão não se encaixa confortavelmente dentro dos padrões naturais do comportamento humano. Ele não nasce espontâneo dentro do coração humano. Perdoar a si mesmo ou aos outros é a marca registrada de uma personalidade madura, e representa considerável avanço em relação ao mais primitivo desejo de vingança ou retaliação.
O perdão ataca o que parece ser uma lei de nossa história: a reciprocidade do olho por olho e dente por dente. O perdão não contabiliza mesquinhamente o que se fez. Perdoar é ir além do princípio de retaliação. Por isso é uma atitude atrevida e ousada.
Perdão não é esquecer o passado, mas é arriscar um outro futuro, não imposto pelo passado ou pela memória ferida. É um convite à imaginação de um mundo novo. Quem perdoar corre o renuncia à força do direito. Quem perdoa arrisca a própria vida.
O perdão transforma as relações humanas, e possui a capacidade de revelar o rosto original de Deus. Perdoar é um ato puramente divino; perdoar é ser como Deus.
Jesus insiste fortemente sobre o perdão, porque este é uma necessidade vital quando a vida foi ferida. Perdoar é o superlativo do amor.
Perdão é amor que reconstrói o passado. Só quem doa amor ao ofensor dá-lhe as condições do arrependimento. O perdão é a única forma de o ofensor entrar no amor. Não há revolução maior do que perdoar e amar.
O perdão, então, resitua as pessoas na grande corrente da vida. É um ato de realismo atrevido e criativo.
O perdão ativo é terapêutico, pois desencadeia um processo de conversão, mobiliza todas as dimensões da pessoa e libera em nós as melhores possibilidades, riquezas escondidas, capacidades, intuições.
O perdão põe em movimento os grandes dinamismos da vida. O perdão é expansivo, ele abre um novo futuro e desata ricas possibilidades latentes em cada um. O perdão revela a natureza do Deus Pai e Mãe de infinita bondade, e implica mudanças na disposição da pessoa que perdoa e na perdoada.
O ser humano é quebradiço por dentro e por fora, mas o perdão o redime da sua fragilidade. É um dinamismo que ressuscita, vivifica e resgata.
Lembro a história daquele rei que prendeu seu pior inimigo e queria sacrificá-lo. Mas antes ouviu seu grão-vizir que lhe disse:
"Se você o sacrificar, fará como todo mundo faz. Se o perdoar, será único".
O perdão é um ato de fé atrevido na bondade do ser humano.