Pate-papo do Papa Francisco com os jesuítas do Perú...
No final do seu primeiro dia no Peru, em 19/JAN, o Papa foi à igreja de São Pedro, (século XVI), e na imensa e bela sacristia se encontrou com mais 100 jesuítas.
1. Os jesuítas do Peru estão comprometidos com as questões relacionadas à reconciliação e à justiça. Agora, parece que as forças políticas chegaram inesperadamente a um acordo, e a reconciliação aparece como um chamado para todos. Propõe-se uma reconciliação sem que tenha havido um processo. Minha pergunta é: Que elementos levar em consideração quando queremos uma reconciliação? Sentimos que a palavra “reconciliação” foi manipulada, e sentimos que está sendo proposta uma justiça que não foi bem preparada. O que pensa sobre isso? A palavra “reconciliação” não é apenas manipulada, também está queimada. Atualmente – não apenas aqui, mas também em outros países de América Latina –, a palavra reconciliação foi enfraquecida. Quando São Paulo descreve a `reconciliação´ de todos nós com Deus, em Cristo, quer usar uma palavra forte. Hoje, entretanto, a “reconciliação” tornou-se uma palavra qualquer. Hoje, negocia-se debaixo dos panos.
Eu diria que não devemos tocar o circo, mas também não chutá-lo. Devemos dizer aos que usam a `reconciliação´ em seu sentido enfraquecido: usem-na vocês, nós não vamos usar uma palavra que hoje está queimada. Devemos continuar trabalhando para reconciliar as pessoas, com a arma da oração, que é a que nos vai dar força e fazer milagres, mas acima de tudo com a arma humana da persuasão. A persuasão age com humildade.
Ir ao encontro do adversário, expor nossas razões quando for dada a oportunidade... O que atualmente se propõe não se trata de uma verdadeira `reconciliação´, mas de uma negociação. E está bem: a arte da liderança política implica também a capacidade de negociar. O problema está no que se negocia. Se entre o que leva para negociar estão os seus interesses pessoais, então já era...
Então, em vez de falar de `reconciliação´, é melhor falar de “esperança”.
2. Santo Padre, temos diminuído em número e continuamos com muitas instituições. Como nos animaria? Como fortalecer nossa vocação de seguir Jesus e de viver na Companhia em meio a circunstâncias que desanimam? O que dizer aos idosos vendo que os jovens escaseiam? O que dizer aos mais jovens? Você disse que temos muitas “instituições”. Eu me atrevo a corrigir a palavra: temos muitas “obras”. Devemos fazer uma distinção entre obras e instituições. O aspecto institucional é essencial na Companhia. Mas, nem todas as `obras´ são `instituições´. Talvez o foram, mas o tempo fez com que deixassem de sê-lo. Discernir entre o que é uma `instituição´ que engaja e dá força, que promete e é profética, e o que é uma `obra´. E sempre um discernimento pastoral e comunitário.
O padre Arrupe: fazer a seleção das obras com este critério: que sejam instituições, no sentido inaciano da palavra, isto é, que engajem as pessoas e que respondam às demandas de hoje. E isso exige discernimento.
Considerando a diminuição de jovens e de forças, se poderia mergulhar em uma `desolação institucional´. Não, isso não podemos permitir. A Companhia de Jesus passou por um período de `desolação institucional´ durante o generalato do Pe. Ricci (1703-1775), e que acabou preso no Castelo Santo Ângelo. As cartas que o Padre Ricci escreveu à Companhia, naquela época, são uma maravilha de critérios de discernimento, critérios de ação para não se deixar afetar pela `desolação institucional´. A desolação joga para baixo, é como um cobertor molhado que jogam sobre você e leva à amargura, à desilusão...
O espírito da desolação marca profundamente. Eu aconselho vocês a lerem as cartas do Pe. Ricci. O Pe. Roothaan (1785-1853) passou por outro período de desolação da Companhia devido à maçonaria. Houve a outros períodos como esses na história da Companhia.
Por outro lado, devemos buscar os pais da institucionalização da Companhia: Inácio, Fabro... Aqui podemos falar do Pe. Barzana (1530-1597). Fiquei encantado com o Barzana. Era chamado de um novo Francisco Xavier das Índias Ocidentais. E esse homem, no deserto, semeou a fé. Dizem que era de origem hebraica (Bar Shana). É bom olhar esses homens que foram capazes de institucionalizar, e que não se deixaram desolar. Pergunto-me se Xavier, não podendo entrar na China, se estava desolado? Não, eu imagino Xavier dizendo ao Senhor: “Vós não o quereis, então, tchau, está bem assim!”. Escolheu seguir o caminho que lhe foi proposto, e, nesse caso, foi a morte... Mas, está bem!
Não devemos entrar no jogo da desolação. Pelo contrário, devemos procurar os jesuítas consolados. Buscar sempre a consolação. Olhem para frente, e que o sorriso do coração não se manche. Temos necessidade do discernimento dos ministérios e das instituições em um clima de consolação. O Pe. Lorenzo Ricci quis sempre escolher a consolação mesmo no momento de maior desolação que a Companhia teve, quando sabia que os tribunais europeus estavam prestes a dar o golpe de misericórdia na Companhia.
3. O que dizer sobre o tema dos abusos sexuais? Somos marcados por esses escândalos. O que pode nos dizer sobre este assunto? Ontem falei sobre isso aos sacerdotes e religiosos chilenos na catedral de Santiago. É a maior desolação que a Igreja está atravessando. E isso, nos leva a passar vergonha, mas devemos lembrar que a vergonha também é uma graça muito inaciana, algo que Santo Inácio nos faz pedir nos três colóquios da 1ª Semana dos Exercícios Espirituais.
Devemos tomá-la como graça e ficar profundamente envergonhados. Devemos amar uma Igreja com chagas. Muitas chagas...
No dia 24/MAR, na Argentina, é a memória do golpe do Estado militar, da ditadura... E, a cada 24/MAR, a Praça de Maio se enche de pessoas que fazem memória desse acontecimento. Em um dia desses, saí da sede da Arquidiocese e fui ouvir as confissões das irmãs carmelitas. Quando voltava, peguei o metrô e não desci na Praça de Maio, mas seis quadras antes. A praça estava lotada; andei para entrar por um lado. Quando atravessava a rua, um casal com uma criança. O menino se adiantou em relação aos pais e o pai lhe disse: “Venha, venha, venha... Cuidado com os pedófilos!” A vergonha que eu passei!
Alguns até dizem: “Bem, vejam as estatísticas... 70% dos pedófilos são do ambiente familiar... A percentagem de pedófilos no clero é de apenas 1,6%. Não é para tanto!...” Mas, é terrível! Deus nos ungiu para abençoar e não para destruir. Vocês deveriam ouvir o que sente um abusado ou uma abusada. Nas sextas-feiras, costumo me encontrar com alguns deles. Ficam arrasados!
Para a Igreja é uma grande humilhação. Isso mostra nossa fragilidade.
É chamativo o fato de que existem várias congregações, relativamente novas, cujos fundadores caíram nesses abusos. Os casos são públicos. O Papa Bento XVI interveio numa delas. O fundador tinha semeado esse costume. Eu tive que suprimi-la. O abuso afetou algumas congregações novas e bem-sucedidas. Os abusos nessas congregações são sempre fruto de uma mentalidade ligada ao poder que deve ser sanado em suas raízes malignas. Existem três níveis de abusos: 1. Abusos de autoridade –misturar os foros interno e externo; 2. Abusos sexuais; 3. Fraudes econômicas.
O dinheiro sempre está no meio: o diabo entra pelo bolso. Inácio põe o primeiro degrau das tentações na riqueza... Depois vem a vaidade e a soberba. Em novas congregações muitas vezes os três níveis acontecem simultaneamente.
4. Ajude-nos neste processo de discernimento. O Padre Geral nos chama para pensar sobre os rumos que a Companhia precisa tomar nestes tempos, considerando nossas fraquezas e fortalezas. Como está vendo que o Espírito move a Igreja para o futuro? Como seguir os caminhos do Espírito? Respondo com uma palavra: “Concílio”. Peguem o Concílio Vaticano II. Releiam a Lumen Gentium. Com os bispos chilenos, exortava-os à desclericalização. O povo de Deus é quem leva a Igreja adiante. A graça da missionariedade e do anúncio de Jesus Cristo nos é dada pelo batismo. A evangelização é feita pela Igreja como povo de Deus. O Senhor quer uma Igreja evangelizadora. Uma Igreja que vai para fora, que sai para anunciar Jesus Cristo. Depois, ou no mesmo momento que o adora e se enche com Ele. Estou à porta e bato. Se alguém me abrir, eu entrarei...
O Senhor está fora e quer entrar. Às vezes, no entanto, o Senhor está dentro e quer sair... Ele nos pede para sermos uma Igreja em saída. Igreja hospital de campanha... Ah, as feridas do povo de Deus! Uma igreja pobre e para os pobres! Os pobres são o centro do Evangelho. Não podemos pregar o Evangelho sem os pobres. É nesta linha que sinto que o Espírito nos está levando. E as resistências para não fazê-lo são fortes. O fato de que há resistências é um sinal de que se está no caminho certo. Se não fosse assim, o demônio não se incomodaria tanto.
Os critérios? Pobreza, misericórdia e a consciência do povo fiel de Deus...
Na América Latina, em particular, deveriam se perguntar: “Onde é que o nosso povo tem sido criativo?” Na piedade popular. E por que o povo conseguiu ser tão criativo na piedade popular? Porque não interessava aos padres e assim deixavam que [o povo] fizesse...
O que a Igreja hoje está pedindo à Companhia? Ensinar com humildade a discernir. Às vezes, demonstramos pouca capacidade de discernimento, não sabemos fazê-lo, porque fomos educados em outra teologia, talvez mais formalista. Contentamo-nos com o “pode ou não pode”, como também disse aos jesuítas chilenos a propósito da resistência à Amoris Laetitia. Alguns reduzem todo o resultado de dois sínodos, todo o trabalho realizado, ao “pode ou não pode”. Ajudem-nos, pois, a discernir. E para discernir, é preciso mergulhar nos Exercícios Espirituais, é preciso examinar-se. Começar por si mesmo.
O encontro terminou assim. O reitor da igreja explica ao Papa o significado da cadeira que prepararam para ele. Disse que em 1992 houve um ataque do Sendero Luminoso e que uma parte da igreja foi destruída. Na restauração, as paredes foram reforçadas e uma arquitrave de madeira de 1672 foi tirada, madeira com a qual se fez a cadeira talhada ao estilo barroco de Lima para esta visita. O Papa agradece sorrindo e brinca: “Estou sentado em 1672...” O Provincial agradeceu ao Papa.
O Papa respondeu ao agradecimento: Muito obrigado. Rezem por mim! Divido com vocês uma graça muito grande. Desde o momento em que pressenti que poderia ser eleito Papa, senti muita paz, paz que sinto até hoje. Peçam ao Senhor para que a mantenha!
1. Os jesuítas do Peru estão comprometidos com as questões relacionadas à reconciliação e à justiça. Agora, parece que as forças políticas chegaram inesperadamente a um acordo, e a reconciliação aparece como um chamado para todos. Propõe-se uma reconciliação sem que tenha havido um processo. Minha pergunta é: Que elementos levar em consideração quando queremos uma reconciliação? Sentimos que a palavra “reconciliação” foi manipulada, e sentimos que está sendo proposta uma justiça que não foi bem preparada. O que pensa sobre isso? A palavra “reconciliação” não é apenas manipulada, também está queimada. Atualmente – não apenas aqui, mas também em outros países de América Latina –, a palavra reconciliação foi enfraquecida. Quando São Paulo descreve a `reconciliação´ de todos nós com Deus, em Cristo, quer usar uma palavra forte. Hoje, entretanto, a “reconciliação” tornou-se uma palavra qualquer. Hoje, negocia-se debaixo dos panos.
Eu diria que não devemos tocar o circo, mas também não chutá-lo. Devemos dizer aos que usam a `reconciliação´ em seu sentido enfraquecido: usem-na vocês, nós não vamos usar uma palavra que hoje está queimada. Devemos continuar trabalhando para reconciliar as pessoas, com a arma da oração, que é a que nos vai dar força e fazer milagres, mas acima de tudo com a arma humana da persuasão. A persuasão age com humildade.
Ir ao encontro do adversário, expor nossas razões quando for dada a oportunidade... O que atualmente se propõe não se trata de uma verdadeira `reconciliação´, mas de uma negociação. E está bem: a arte da liderança política implica também a capacidade de negociar. O problema está no que se negocia. Se entre o que leva para negociar estão os seus interesses pessoais, então já era...
Então, em vez de falar de `reconciliação´, é melhor falar de “esperança”.
2. Santo Padre, temos diminuído em número e continuamos com muitas instituições. Como nos animaria? Como fortalecer nossa vocação de seguir Jesus e de viver na Companhia em meio a circunstâncias que desanimam? O que dizer aos idosos vendo que os jovens escaseiam? O que dizer aos mais jovens? Você disse que temos muitas “instituições”. Eu me atrevo a corrigir a palavra: temos muitas “obras”. Devemos fazer uma distinção entre obras e instituições. O aspecto institucional é essencial na Companhia. Mas, nem todas as `obras´ são `instituições´. Talvez o foram, mas o tempo fez com que deixassem de sê-lo. Discernir entre o que é uma `instituição´ que engaja e dá força, que promete e é profética, e o que é uma `obra´. E sempre um discernimento pastoral e comunitário.
O padre Arrupe: fazer a seleção das obras com este critério: que sejam instituições, no sentido inaciano da palavra, isto é, que engajem as pessoas e que respondam às demandas de hoje. E isso exige discernimento.
Considerando a diminuição de jovens e de forças, se poderia mergulhar em uma `desolação institucional´. Não, isso não podemos permitir. A Companhia de Jesus passou por um período de `desolação institucional´ durante o generalato do Pe. Ricci (1703-1775), e que acabou preso no Castelo Santo Ângelo. As cartas que o Padre Ricci escreveu à Companhia, naquela época, são uma maravilha de critérios de discernimento, critérios de ação para não se deixar afetar pela `desolação institucional´. A desolação joga para baixo, é como um cobertor molhado que jogam sobre você e leva à amargura, à desilusão...
O espírito da desolação marca profundamente. Eu aconselho vocês a lerem as cartas do Pe. Ricci. O Pe. Roothaan (1785-1853) passou por outro período de desolação da Companhia devido à maçonaria. Houve a outros períodos como esses na história da Companhia.
Por outro lado, devemos buscar os pais da institucionalização da Companhia: Inácio, Fabro... Aqui podemos falar do Pe. Barzana (1530-1597). Fiquei encantado com o Barzana. Era chamado de um novo Francisco Xavier das Índias Ocidentais. E esse homem, no deserto, semeou a fé. Dizem que era de origem hebraica (Bar Shana). É bom olhar esses homens que foram capazes de institucionalizar, e que não se deixaram desolar. Pergunto-me se Xavier, não podendo entrar na China, se estava desolado? Não, eu imagino Xavier dizendo ao Senhor: “Vós não o quereis, então, tchau, está bem assim!”. Escolheu seguir o caminho que lhe foi proposto, e, nesse caso, foi a morte... Mas, está bem!
Não devemos entrar no jogo da desolação. Pelo contrário, devemos procurar os jesuítas consolados. Buscar sempre a consolação. Olhem para frente, e que o sorriso do coração não se manche. Temos necessidade do discernimento dos ministérios e das instituições em um clima de consolação. O Pe. Lorenzo Ricci quis sempre escolher a consolação mesmo no momento de maior desolação que a Companhia teve, quando sabia que os tribunais europeus estavam prestes a dar o golpe de misericórdia na Companhia.
3. O que dizer sobre o tema dos abusos sexuais? Somos marcados por esses escândalos. O que pode nos dizer sobre este assunto? Ontem falei sobre isso aos sacerdotes e religiosos chilenos na catedral de Santiago. É a maior desolação que a Igreja está atravessando. E isso, nos leva a passar vergonha, mas devemos lembrar que a vergonha também é uma graça muito inaciana, algo que Santo Inácio nos faz pedir nos três colóquios da 1ª Semana dos Exercícios Espirituais.
Devemos tomá-la como graça e ficar profundamente envergonhados. Devemos amar uma Igreja com chagas. Muitas chagas...
No dia 24/MAR, na Argentina, é a memória do golpe do Estado militar, da ditadura... E, a cada 24/MAR, a Praça de Maio se enche de pessoas que fazem memória desse acontecimento. Em um dia desses, saí da sede da Arquidiocese e fui ouvir as confissões das irmãs carmelitas. Quando voltava, peguei o metrô e não desci na Praça de Maio, mas seis quadras antes. A praça estava lotada; andei para entrar por um lado. Quando atravessava a rua, um casal com uma criança. O menino se adiantou em relação aos pais e o pai lhe disse: “Venha, venha, venha... Cuidado com os pedófilos!” A vergonha que eu passei!
Alguns até dizem: “Bem, vejam as estatísticas... 70% dos pedófilos são do ambiente familiar... A percentagem de pedófilos no clero é de apenas 1,6%. Não é para tanto!...” Mas, é terrível! Deus nos ungiu para abençoar e não para destruir. Vocês deveriam ouvir o que sente um abusado ou uma abusada. Nas sextas-feiras, costumo me encontrar com alguns deles. Ficam arrasados!
Para a Igreja é uma grande humilhação. Isso mostra nossa fragilidade.
É chamativo o fato de que existem várias congregações, relativamente novas, cujos fundadores caíram nesses abusos. Os casos são públicos. O Papa Bento XVI interveio numa delas. O fundador tinha semeado esse costume. Eu tive que suprimi-la. O abuso afetou algumas congregações novas e bem-sucedidas. Os abusos nessas congregações são sempre fruto de uma mentalidade ligada ao poder que deve ser sanado em suas raízes malignas. Existem três níveis de abusos: 1. Abusos de autoridade –misturar os foros interno e externo; 2. Abusos sexuais; 3. Fraudes econômicas.
O dinheiro sempre está no meio: o diabo entra pelo bolso. Inácio põe o primeiro degrau das tentações na riqueza... Depois vem a vaidade e a soberba. Em novas congregações muitas vezes os três níveis acontecem simultaneamente.
4. Ajude-nos neste processo de discernimento. O Padre Geral nos chama para pensar sobre os rumos que a Companhia precisa tomar nestes tempos, considerando nossas fraquezas e fortalezas. Como está vendo que o Espírito move a Igreja para o futuro? Como seguir os caminhos do Espírito? Respondo com uma palavra: “Concílio”. Peguem o Concílio Vaticano II. Releiam a Lumen Gentium. Com os bispos chilenos, exortava-os à desclericalização. O povo de Deus é quem leva a Igreja adiante. A graça da missionariedade e do anúncio de Jesus Cristo nos é dada pelo batismo. A evangelização é feita pela Igreja como povo de Deus. O Senhor quer uma Igreja evangelizadora. Uma Igreja que vai para fora, que sai para anunciar Jesus Cristo. Depois, ou no mesmo momento que o adora e se enche com Ele. Estou à porta e bato. Se alguém me abrir, eu entrarei...
O Senhor está fora e quer entrar. Às vezes, no entanto, o Senhor está dentro e quer sair... Ele nos pede para sermos uma Igreja em saída. Igreja hospital de campanha... Ah, as feridas do povo de Deus! Uma igreja pobre e para os pobres! Os pobres são o centro do Evangelho. Não podemos pregar o Evangelho sem os pobres. É nesta linha que sinto que o Espírito nos está levando. E as resistências para não fazê-lo são fortes. O fato de que há resistências é um sinal de que se está no caminho certo. Se não fosse assim, o demônio não se incomodaria tanto.
Os critérios? Pobreza, misericórdia e a consciência do povo fiel de Deus...
Na América Latina, em particular, deveriam se perguntar: “Onde é que o nosso povo tem sido criativo?” Na piedade popular. E por que o povo conseguiu ser tão criativo na piedade popular? Porque não interessava aos padres e assim deixavam que [o povo] fizesse...
O que a Igreja hoje está pedindo à Companhia? Ensinar com humildade a discernir. Às vezes, demonstramos pouca capacidade de discernimento, não sabemos fazê-lo, porque fomos educados em outra teologia, talvez mais formalista. Contentamo-nos com o “pode ou não pode”, como também disse aos jesuítas chilenos a propósito da resistência à Amoris Laetitia. Alguns reduzem todo o resultado de dois sínodos, todo o trabalho realizado, ao “pode ou não pode”. Ajudem-nos, pois, a discernir. E para discernir, é preciso mergulhar nos Exercícios Espirituais, é preciso examinar-se. Começar por si mesmo.
O encontro terminou assim. O reitor da igreja explica ao Papa o significado da cadeira que prepararam para ele. Disse que em 1992 houve um ataque do Sendero Luminoso e que uma parte da igreja foi destruída. Na restauração, as paredes foram reforçadas e uma arquitrave de madeira de 1672 foi tirada, madeira com a qual se fez a cadeira talhada ao estilo barroco de Lima para esta visita. O Papa agradece sorrindo e brinca: “Estou sentado em 1672...” O Provincial agradeceu ao Papa.
O Papa respondeu ao agradecimento: Muito obrigado. Rezem por mim! Divido com vocês uma graça muito grande. Desde o momento em que pressenti que poderia ser eleito Papa, senti muita paz, paz que sinto até hoje. Peçam ao Senhor para que a mantenha!