Viva, pois, o seu gênero…

Eu não sei por que a nossa hierarquia chega, quase sempre, a última na linha de chegada.

Sei que alguns bispos acham uma aberração esta questão do “gênero”, das pessoas escolherem como querem ser e viver, e não percebem que o modelo que temos de dois sexos definidos se esgota na sua agressividade, manipulação e exclusão. São bastantes as pessoas que querem ser como podem e não como os outros querem.

A professora universitária Judith Butler (*1956) ajuda a pensar e a superar os limites estreitos da cultura dominante. Ela atrai multidões com suas palestras questionadoras e libertadoras propondo uma sociedade onde caibam todos.

Butler, professora de literatura comparada e filósofa, propõe desconstruir os conceitos de sexo, gênero e desejo, para entendê-los como construções pessoais e não apenas culturais, de modo que ninguém se sinta formatado no seu modo de ser e viver. Sua tese: O gênero é uma atuação repetida e obrigatória de uma cultura dominante... Depois, abre outras possibilidades de vivência humana às quais não estamos acostumados.

Ela questiona sem pudor as normas culturais impostas e sobrepostas forçadamente às pessoas. As definições cartesianas são excludentes, e fazem com que a vida seja menos visível, diz ela. A vida seria mais visível se não fôssemos tão limitados por categorias que não funcionam. Nada é anômalo ou irregular. Desse modo o ser humano respiraria melhor e andaria mais tranquilo pela vida.

Lembro que falando com uma pessoa “diversa” sobre o humilhante que seria a penetração anal discordou tranquilamente de mim dizendo apenas: Por quê?

A senhora Butler abre totalmente o horizonte do pensamento e do dissenso, da liberdade e do viver: A política de gênero e os direitos sexuais me parecem importantes para as pessoas serem reconhecidas e deixem de viver uma vida precária e escondida.

Não só a questão do gênero entra em crise, mas também as leis migratórias injustas ou racistas, a agressão e a exploração, e até a violência policial. Todas as pessoas têm direito a ser o que elas desejam ser e viver. Isto até parece ser mais conforme com a Boa Nova do Evangelho.

Há um terrorismo cultural sexista que mata, e que envia uma mensagem subliminar explícita: subordina-te ou morre!

Há muito trabalho por fazer: Como entender o terror sexual dominante? Como isso se relaciona com a dominação e o extermínio?

Eis o que alguém recomenda até que esta proposta não seja mais socializada: Não julgue, apenas aceite. Se errar, peça desculpas. Não dê opinião onde não é chamado e não faça perguntas indelicadas, todo mundo tem direito à privacidade e ao respeito. Não use a religião como argumento sobre o que eles devem ou não devem ser; fique na sua, aceite o diferente. Se não gosta, saia de perto, mas não machuque, apenas fique neutro.

O mundo já tem suicídios demais, homicídios demais, intolerância demais. Ajude a acabar com isso, você faz toda a diferença.

E fica a pergunta: O que fazer diante de este tsunami?
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