"No início, os cristãos não se interessaram pelo nascimento de Jesus" Perguntas sobre o Natal (I)
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"É à luz da Páscoa que se compreendem as narrativas do Natal. De facto, no início, os cristãos não se interessaram pelo nascimento de Jesus, pois o essencial era a vida, a morte e a ressurreição"
"Então, como apareceu a festa do Natal? Quando nasceu Jesus? Nasceu em Belém? E a mensagem do Natal?"
Já estamos no ano de 2025 em todas as partes do mundo — desejo a todos um 2025 com saúde, paz, boas realizações... —, masquantos tomaram consciência de que a data se refere ao nascimento de Jesus?
Precisamente por causa do Natal, muitas pessoas vêm ao meu encontro com perguntas, e nesta e na próxima crónica tentarei dar respostas ainda que breves, por vezes até com algumas repetições.
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Para entender as respostas, é essencial perceber que a festa do Natal não é a festa principal do cristianismo, mesmo que seja a mais popular e entendamos o entusiasmo que suscita em toda a parte, compreendendo perfeitamente a luz, o calor humano, as deslocações para juntar as famílias e os amigos, a evocação da ternura do nascimento de uma criança...
A festa central da fé cristã é a Páscoa, que celebra a vida, o anúncio da Boa Nova do Reino de Deus, a paixão e morte de Jesus e a sua ressurreição: na morte, Jesus não morreu para o nada, na morte encontrou a plenitude da vida em Deus, que é Pai-Mãe. Este é o núcleo da mensagem cristã, como proclamou São Paulo: “Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa fé.”
E assim é à luz da Páscoa que se compreendem as narrativas do Natal. De facto, no início, os cristãos não se interessaram pelo nascimento de Jesus, pois o essencial era a vida, a morte e a ressurreição.
Então, como apareceu a festa do Natal? Hoje, nenhum historiador sério nega que Jesus existiu realmente. Quando, nos séculos III-IV já havia comunidades cristãs espalhadas pelo Império Romano, houve a ideia de transformar a festa pagã do Dies Natalis Solis Invicti (Natal do Sol Invicto), associada ao solstício do Inverno, quando os dias começam a crescer e com eles a luz solar, na festa do nascimento do Sol dos cristãos, dAquele que é o verdadeiro Sol invencível, a Luz verdadeira. A Missa do galo está associada a esta luz; o galo canta, anunciando a aurora.
E voltamos à questão da data e de nos encontrarmos no ano de 2025. Quando nasceu Jesus? Realmente, estamos enganados quando dizemos que entrámos no ano 2025 depois de Cristo. De facto, no século VI, quando o cristianismo já se tinha vastamente difundido e Jesus surgia como figura determinante da História, de tal modo que agora o calendário se deveria orientar pela data do seu nascimento: a. C., d. C. (antes de Cristo, depois de Cristo), o monge encarregado de determinar essa data, Dionísio o Exíguo, enganou-se em 4 ou mesmo 6 anos. Portanto, Jesus, paradoxalmente, terá nascido em 4-6 a.C.
Nasceu em Belém? Voltamos ao início. O essencial da fé cristã encontra-se na Páscoa. Foi a partir dessa fé que os discípulos leram a vida histórica de Jesus, real, situada num tempo concreto, uma história real, mas lida e interpretada com o olhar da fé. Esta leitura é particularmente visível nos relatos da infância, que só aparecem nos Evangelhos de São Mateus e São Lucas, utilizando um género literário próprio, que projecta e vê no princípio o que só sabem no fim: em Jesus cumpriram-se as promessas, Ele é o Messias, o Filho de Deus, o Salvador por todos esperado. Na realidade, Jesus terá nascido em Nazaré: é conhecido por Jesus de Nazaré ou o Nazareno. Mas puseram-no a nascer em Belém: trata-se de mostrar que ele é o verdadeiro Messias e rei, da descendência de David, que era de Belém.
E a mensagem do Natal? Jesus proclamou o Reino de Deus. Deus é Pai/Mãe. Somos todos filhos e filhas e, portanto, irmãos. No Reino de Deus, não há súbditos. Continua.
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