Quarta-feira de Cinzas; Viver sem máscaras... (cf. Pe. A. Palaoro SJ)
Algo disto acontece no Carnaval, apoteose do sonho, do espelhismo, e da vaidade. É pura fachada passageira.
É curioso: Disfarçamo-nos de forte quando sabemos que somos vulneráveis; aparentamos ser resistentes quando, na realidade, estamos quebrados por dentro; manifestamos coragem quando o medo bloqueia o fluir da nossa vida; escondemos as inquietudes cotidianas, os desgostos ou as feridas, os fracassos e a falta de sentido na vida...
É a cultura da “civilização do espetáculo”, da atrofia da interioridade. A vida deixou de ser vivida para ser representada. As pessoas vivem para mostrar-se para fora, e carecem de sedimento interno. Tudo é superficial e descartável1
O caminho para a autenticidade e profundidade não é fácil. A multiplicação de presenças superficiais – celular, tablets, face-book, whatsApp –banalizou a intimidade.
“Vestir-se de saco e cobrir-se de cinzas” seria a outra face dessa mesma moeda. É como quem tira a maquiagem frente a um espelho, para encontrar-se com a pele desnuda e desprotegido.
Neste tempo de Cinzas a liturgia insiste para ver nossa realidade sem adornos e mentiras; reconhecer os dons e os limites; as fendas por onde a vida se esvai, e “sair do próprio amor, querer e interesse”, e partilhar nossa vida com os outros sem fantasias enganosas.
Caminhar para um Evangelho mais autêntico, sem exibicionismos ou duplicidade de vida.
Esmola, oração e jejum, para reaprender o caminho de volta ao coração, para viver com mais verdade e coerência.
Somos convidados a viver a Quaresma como um tempo de libertação, para sermos melhores e mais humanos.