Jesus e a sexualidade masculina... (Cf. Agustín Rivarola, SJ)

Para os homens não é fácil tocar o tema da sexualidade e, menos ainda, rezá-la. Nossa sexualidade virou sinônimo de pênis ereto, instrumento do macho caçador. Desde a puberdade competíamos para saber quem tinha o membro maior e, facilmente afogávamos no esquecimento o mundo dos sentimentos, para não cair na suspeita de sermos homossexuais. Associamos a sexualidade com a força, a potência e a intensidade… e gastamos muitas energias para dominar tudo isso. Mais ainda, se somos pessoas que acreditam, facilmente sofremos Deus como um inimigo da sexualidade humana, alguém mais poderoso e do qual devemos manter-nos afastados ou morrer submetidos a Ele.

Vejamos o tema da sexualidade masculina contemplando a cura de um homem, vendo Jesus recompondo as energias sexuais dele (Mc 5, 1-20).

No relato evangélico encontramos um homem desestruturado sexualmente (“impuro”), e impelido por uma força negativa, de morte (morava nos sepulcros de um cemitério). Este detalhe é mencionado até três vezes e é significativo. De esse lugar excludente provinha a força que o habitava (arrebentava as correntes e quebrava as algemas...), força que o atormentava e feria. A sexualidade é uma grande força para a Vida, mas muitos a vivem de maneira trágica, impossível de sujeitar, e que bloqueia a plenitude do que somos e estamos chamados a viver. Essa desestruturação coloca essa pessoa à margem, fora da vida da cidade.

Gerasa era, certamente, uma região de pagãos. Provavelmente também colocamos nossa sexualidade desse maneira, à margem e em terra de pagãos, e não a conversamos sobre ela com ninguém e muito menos com Deus. Facilmente cremos que Deus e a sexualidade são duas entidades irreconciliáveis. O texto de Lucas acrescenta que esse homem, além de dar gritos e se ferir com pedras, andava nu.

Na nossa vida podem também acontecer autoagressões que ferem a alma e atormentam por longo tempo. Na dimensão sexual há culpas guardadas, recriminações e fixações que precisam ser curadas. Na área da sexualidade existem zonas que precisam ser ressuscitadas, correntes e algemas que precisam ser arrancadas. Essas culpas sexuais são como vozes que gritam e atormentam a existência de muitas pessoas. Parecem ser até uma “legião”, tal o poder e transtorno que ocasionam no nosso mundo interior e exterior. Forças poderosas e desordenadas que precisam ser pacificadas! Forças que, ao mesmo tempo, sentem-se ameaçadas pela pessoa e proposta de Jesus.

Jesus quer pessoas afetiva e sexualmente integradas. A cura desse homem “impuro” é paradigmática. Jesus não se assusta com a vivência desordenada deste homem e deixa que ele se aproxime e se prostre aos seus pés. Para integrar nossa afetividade e sexualidade precisamos entrar em contato com ela e colocá-la aos pés de Jesus. Jesus entra em diálogo com suavidade e firmeza, até que logra conhecer o nome daquela força desordenada. Dialogar, escutar a própria sexualidade é descobrir suas necessidades, aspirações e desejos.

E os “porcos” afogados no mar? É o momento de “recolocação" de novos valores e "solta” dos registros mais velhos. Provavelmente nossa sexualidade masculina está contaminada com muitos elementos caóticos, mensagens negativas e crenças limitantes da cultura machista dominante. Precisamos devolver ao inconsciente (o mar) as imagens do falo onipotente que deformam a vivência da nossa virilidade.

A sexualidade masculina que Jesus quer dar e reparar é representada por esse homem “sentado, vestido e bom de juízo”, cheio de ânimo e generosidade por seguir o Mestre: “pediu para ir em sua companhia...” É esse nosso desejo, seguir o Senhor apesar dos muitos temores e preconceitos sociais, tipificados naqueles habitantes que insistiam para que Jesus deixasse a terra deles...

Curados e integrados, seremos capazes de viver a força interior da sexualidade no seguimento de Jesus, apesar dos contratempos sociais ou culturais. Só assim será possível de alguns subirem na barca com Ele e de outros irem para a suas famílias, "para casa, junto dos teus", mas todos anunciando a boa nova do Senhor.

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