Pentecostes: O “sopro” do Ressuscitado nas raízes de nossa existência... (Pe. A. Palaoro SJ)

Pentecostes é uma festa eminentemente pascal. Sem a presença do Espírito, a experiência pascal não seria possível. Ressurreição, Ascensão, Pentecostes e missão eclesial aparecem intimamente articuladas. Não são momentos isolados, mas simultâneos e dinamizadores na comunidade dos seguidores de Jesus.

O Ressuscitado, através da eficácia do sopro do Espírito, reconstrói relações rompidas, afasta o medo, e abre o horizonte da missão.

“Espírito” (termo latino; em hebraico “ruah”) significa vento, ar, alento, vida, amplitude, espaço ilimitado... A totalidade de nosso ser está empapada do Ruah de Deus. “Ruah” evoca o sopro do vento, a brisa fresca que traz a chuva, considerada como uma benção.

As angústias e os sofrimentos mais radicais do ser humano são acolhidos e transformados pelo sopro do Espírito: um sopro vital que possibilita a vitória da esperança contra o desespero, da comunhão contra a solidão, da vida contra a morte.

O Espírito é sopro, hálito, vento que gera vida, que move, impulsiona e sopra onde quer. De onde vem e para onde vai não é fácil dizer, mas está sempre presente, e se faz sentir. Sopra, despoja, subverte, separa, varre, empurra, levanta, expande, toca de leve... Aparecem e permanecem os sinais da sua passagem.

É um vento leve, refrescante, novo, penetrante, inovador, cambiante; um sopro sutil, interior, profundo; um sopro que não pode ser detido nem sufocado. E ao mesmo tempo é impetuoso, desafiador e perigoso; envolve, mas não invade; interroga, mas não condena; arrasta, mas não constrange. Oferece, mas não impõe. Acolhido torna tudo novo. Quem se deixa mover pelo Sopro sente sua força e reconhece sua ação.

Quem se deixa mover pelo Espírito é imprevisívele não se deixa enquadrar pelas ideias cristalizadas nem se fecha em atitudes petrificadas; não se contenta com a superficialidade e a mediocridade. Deseja voar mais alto e mergulhar no mais profundo, busca novidades e desfruta do presente, sem se desconectar do passado e do futuro.

É preciso resgatar a força, a beleza e a fecundidade da dimensão espiritual de todo ser humano. A espiritualidade cristã é uma “vida segundo o Espírito” (Rm 8,9). Experiência original que torna cristã uma pessoa: ser habitada pelo mesmo Espírito que habitou Jesus de Nazaré.

Espiritualidade vem de “spiritus”, e tem a ver com respiração, alento que vem de dentro, fogo e calor, energia e força que brotam e sustentam o íntimo da pessoa. Espiritualidade é a arte de respirar corretamente. Quem cultiva essa respiração integral, esse alento e fôlego do espírito dentro de si, consegue caminhar mais longe, ir mais adiante, ser mais criativo e intuitivo, não desanima ou esmorece. A força do espírito nos conduz sempre adiante.

Como “filhos e filhas do Vento” basta deixar-nos envolver pelo Sopro e escutar aquela voz que habita no mais profundo da vida e que se aninha nas cavidades mais secretas de nossa existência.

Pentecostes é o “sopro” do Ressuscitado nas raízes de nossa existência...
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