Declaração final do Congresso Religiões: “O direito à esperança, à beleza, ao céu” (I)
"Não há dúvida nenhuma de que a religião pode contribuir para uma maior humanização, uma humanização integral, plena"
| Anselmo Borges Padre e professor de Filosofia
1. O Papa Francisco esteve no Cazaquistão nos dias 13-15 de Setembro, para participar no VII Congresso de Líderes das Religiões Mundiais e Tradicionais. Coube-lhe o discurso de encerramento, no qual se socorre de várias citações da Declaração final do Congresso. O que aí fica pretende ser uma síntese dos momentos considerados essenciais dos dois textos, sendo o de hoje dedicado à Declaração.
Mas começaria por sublinhar a importância decisiva destes encontros sobre as religiões, não só porque, como sublinhou o teólogo Hans Küng, “Não haverá paz entre as nações sem paz entre as religiões .Não haverá paz entre as religiões sem diálogo entre as religiões. Não haverá sobrevivência do nosso planeta sem um ethos (atitude ética) global, sem um ethos mundial”, mas também para que as religiões reflictam, se convertam à sua essência, ao que verdadeiramente devem ser, e assim evitem barbaridades em nome de Deus.
Por exemplo, no passado dia 25 de Setembro, o Patriarca Kirill, o representante máximo da Igreja ortodoxa na Rússia, no sermão de Domingo, afirmou que o sacrifício “no cumprimento do dever militar” na guerra contra a Ucrânia “lava todos os pecados”. E o que fez a Inquisição senão assar dissidentes na fogueira, apenas porque, com razão, divergiam da Igreja oficial? E a tragédia da pedofilia ? E as barbaridades em nome do islão?... Nas religiões, há o melhor e o pior…
2. A Declaração conjunta tem como ponto de partida “o facto imutável de que o Todo Poderoso criou todas as pessoas iguais, independentemente da sua filiação racial, religiosa, étnica ou de outro tipo ou da sua condição social, e, assim, a tolerância, o respeito e a compreensão mútua são a base de apoio de todo o ensino religioso.” Mais: “o pluralismo e as diferenças de religião, cor da pele, género, raça e língua são expressões da sabedoria da vontade de Deus na criação.” Por isso, a Declaração acentua que as religiões só podem ser factores de paz: “Cremos que o extremismo, o radicalismo, o terrorismo e todas as outras formas de violência e guerra, sejam quais forem os seus objectivos, nada têm que ver com a verdadeira religião e devem ser rejeitados do modo mais enérgico.”
Também por isso, insiste encarecidamente com os governos nacionais e as organizações internacionais “para que prestem uma assistência integral a todos os grupos religiosos e comunidades étnicas que foram e são objecto de violação de direitos e de violência por parte de extremistas e terroristas.” Apela igualmente aos líderes mundiais para que “abandonem toda a retórica agressiva e destrutiva que conduz à desestabilização do mundo e para que cessem os conflitos e o derramento de sangue em todos os quadrantes do nosso mundo.”
Em ordem à resolução dos conflitos, pede a colaboração dos líderes religiosos e dos políticos: “Apelamos aos líderes religiosos e aos políticos de diferentes partes do mundo para que desenvolvam incansavelmente o diálogo em nome da amizade, da solidariedade e da coexistência pacífica”, defendemos “a participação activa desses líderes das religiões mundiais e tradicionais e das figuras políticas proeminentes na resolução de conflitos em ordem a conseguir a estabilidade a longo prazo.” Há “a necessdiade urgente de que os líderes espirituais e políticos trabalhem juntos para fazer frente aos desafios do nosso mundo.”
Não há dúvida nenhuma de que a religião pode contribuir para uma maior humanização, uma humanização integral, plena. Com uma condição: ser bem entendida. Reconhece-se que “o Congresso de Líderes das Religiões Mundiais e Tradicionais desempenha um papel importante na realização de esforços conjuntos para fortalecer o diálogo em nome da paz e da cooperação, bem como dos vlaores espirituais e morais.”
Por isso, a Declaração adverte: “Esforçamo-nos por desenvolver um diálogo com os meios de comunicação social e outras instituições da sociedade para esclarecerem a importância dos valores religiosos para promover a alfabetização religiosa, a tolerância inter-religiosa e a paz civil”, continuando: “Constatamos que as pessoas e as sociedades que desestimam a importância dos valores espirituais e as directrizes morais são susceptíveis de perder a sua humanidade e criatividade.”
Por isso, ao mesmo tempo que acolhem “com satisfação os progressos realizados nos campos da ciência, da tecnologia, da medicina, da indústria e outros âmbitos”, chamam a atenção para a necessidade da sua “harmonização com os valores espirituais, sociais e humanos.” Fundamental é “aumentar o papel da educação e da formação religiosa para reforçar a coexistência respeitosa das religiões e as culturas e desterrar os perigosos preconceitos pseudoreligiosos.”
“Pedimos que se apoiem todas as iniciattivas práticas para levar a cabo o diálogo inter-religioso e interconfessional, em ordem a construir a justiça social e a solidariedade entre os povos. Solidarizamo-nos com os esforços das Nações Unidas e todas as outras instituições e organizações internacionais, governamentais e regionais, para promover o diálogo entre civilizações e religiões, estados e nações.”
A família e sua importância fundamental não foram esquecidas, os direitos da mulher também não. “Prestamos especial atenção à importância de fortalecer a instiuição da família. Defendemos a protecção da dignidade e dos direitos das mulheres, a melhoria do seu status social como membros iguais da família e da sociedade.”
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