14º DTC: Num mundo de indiferença, fazer a diferença... (Pe. A. Palaoro)
Marcos não tem relatos da infância de Jesus. Por isso, busca narrar alguns encontros dele com seu povo e sua família. No entanto, para os que melhor O conheciam, Jesus era visto como um homem galileu a mais do povo. Seus conterrâneos estavam tão seguros de que Ele era uma “pessoa normal”, que não aceitavam Seu modo original de ser. “Enquadraram-no” numa família, requisito indispensável, para ser alguém.
O relato deste domingo é surpreendente.Jesus foi rejeitado pelos seus parentes. Ele experimenta a rejeição coletiva de sua comunidade familiar. Os seus não o aceitam como portador da mensagem profética de Deus.
Mas Jesus não se deixou domesticar e nem se acomodou às expectativas de seus conterrâneos. Sua vida desconcertou a todos. Sua presença despertou perguntas, dúvidas e até discussões. Quem será Ele? Será o Messias? Como explicar sua vida?
Preferimos ser como todo mundo à originalidade de ser diferentes; preferimos a monotonia de ser como todos e passar desapercebidos no meio da multidão. Sabemos que isso constitui um mecanismo de defesa pelo qual buscamos nos proteger de todo questionamento. Toda desqualificação do outro esconde o medo ao diferente, ao novo, e algum sentimento oculto de inferioridade.
Se, por um lado a indiferença é a maneira mais polida de desprezar alguém, é também terreno fértil para alimentar o ego, levando-o à cobiça e à inveja. Não admira o semelhante a não ser para desconstruir ou destruir a sua imagem.
A indiferença é como uma praga no jardim, vai se espalhando e contaminando e pode revelar, em sua raiz, uma insegurança estonteante em relação ao outro. Psicologicamente, diríamos quea indiferença é um mecanismo de defesa, é negação. Na negação do outro se escondem sentimentos de auto-destruição e um deles é a inveja. Quem cultiva a indiferença, facilmente sente-se alegre ao saber que o outro está numa pior.
Também para nós hoje continua sendo difícil crer n’Aquele que simplesmente se revela “como um de nós”. Não é fácil reconhecer a passagem de Deus por nossa vida,especialmente quando essa passagem se reveste de “roupagem comum”; às vezes, gostaríamos que Deus se manifestasse de maneiras espetaculares, mas o enviado d’Ele, seu próprio Filho, come em nossas mesas, caminhas nossos passos e veste nossas roupas. Acostumados a ouvir sempre o mesmo, se alguém diz algo diferente, mesmo que esteja mais de acordo com o Evangelho, rejeitamos de imediato.
Temos medo do Jesus humano, porque Ele coloca em questão nossa segurança, nosso estilo de vida e nossa vivência religiosa.
Entrar no caminho do seguimento de Jesus implica estar desapegado de todas as falsas imagens que podemos fazer sobre Ele. Sempre que nos fechamos em ideias fixas sobre Jesus, estamos nos preparando para o escândalo.
O Jesus do Evangelho nunca se apresenta duas vezes com o mesmo rosto. Se O buscarmos de verdade, descobri-Lo-emos sempre diferente e desconcertante. Se esperamos encontrar um “Jesus domesticado”, nos enganamos a nós mesmos, aceitando o ídolo que já nos é familiar. A consequência é uma vida cristã atrofiada, centrada na doutrina, na lei, na moral, e não no seguimento d’Aquele que, na “normalidade da vida”, deixou transparecer o extraordinário Amor do Pai.