Místicos ou gnósticos?
O cristianismo chegou a nós por duas vertentes: alguns judeus de Jerusalém e de outros poucos pagãos do Império Romano que acreditaram em Jesus como Messias, isto é Senhor e Salvador. Os primeiros cristãos procediam dessas culturas e trouxeram consigo algumas tradições que penetraram e deixaram marcas no cristianismo iniciante.
O judaísmo coloca a Lei revelada como mediação do Todo-poderoso. A Torá era, pois, o ponto de encontro entre Deus e os homens e destes com Deus. Com o passar do tempo, a Lei pedagoga se transformou em opressora, exigindo das pessoas uma submissão avassaladora.
O paganismo (grego ou romano) cultuava infinidade de entidades, conforme as necessidades dos seus seguidores. O fenômeno religioso dos pagãos exteriorizava o melhor da suas mentes e desejos. Cada um adorava e cultuava aquilo que achava e sentia melhor para si.
O cristianismo traz no seu bojo tanto o legalismo judaico quanto o individualismo pagão, , embora não se identifique com nenhuma dessas culturas. Conhecemos cristãos fortemente legalistas e outros exageradamente independentes e egoístas. Contudo, o Cristianismo é um fato novo, fruto da graça do Senhor Jesus Ressuscitado.
Na história da Igreja houve épocas onde se destacou com maior força não a graça, mas a Lei eclesiástica (judaizante!) ou o reinado absoluto do próprio parecer (traços pagãos!). Contudo, o fato cristão é pura gratuidade do Senhor Ressuscitado que une as pessoas no amor e rompe a absolutização da Lei e o imperativo do próprio desejo. Só temos um Senhor, Jesus Cristo!
Mas não só a Lei judaica e o coração inquieto do pagão influenciam hoje a busca pelo "religioso", mas há também outros fatores externos (tradições, políticas, economias...) e internos (psiquê, sonhos...) que condicionam esta nossa procura.
Toda “experiência religiosa”, judaica, pagã, budista ou cristã, deve ser respeitada, pois é lugar privilegiado para percebermos Deus que em tudo transparece. Contudo, o fato cristão tem uma dimensão objetiva, o Cristo histórico, e outra subjetiva, isto é o que conseguimos compreender dessa auto-revelação divina. Sem o fato objetivo cairemos na mera fantasia religiosa. A tensão entre o revelado e o percebido, não pode ser rompido ou substituído. Esses dois pólos são fundamentais e necessários, para a experiência verdadeira de Deus. Prescindir de um deles é se perder no labirinto da ilusão religiosa e correr o risco de perder até a própria identidade cristã.
Nessa linha subjetiva e perdida encontramos a "Gnose" (gnosis = conhecimento) que nos seus primórdios foi autenticamente cristã: conhecimento iluminado de Deus, impregnado de "ágape" fraterno. Melhor, impossível! O homem espiritual, segundo Paulo, é um verdadeiro “gnóstico”, um iluminado, um místico que confessa sua fé também por meio de suas obras.
Com o decorrer do tempo, a "gnose" rompeu seu contato com o dado objetivo revelado e adquiriu um sentido totalmente subjetivista, heterodoxo e esotérico, que ainda mantém hoje. Os gnósticos de hoje se perdem numa infindável fantasia espiritual.
Esse gnosticismo radical, alienado e subjetivista, reaparece na história do cristianismo, como seita excludente. Desse modo, a gnose se transformou em um tipo de orgulho religioso, fantasioso e até insano que pouco tem a ver com a revelação das Sagradas Escrituras.
Hoje, o discípulo verdadeiro de Jesus Cristo será um místico ou não será mais cristão!
Uma pergunta: Sua experiência religiosa é judaica, pagã, esotérica ou cristã?