4ºDTC: PALAVRAS QUE DESTRAVAM A VIDA... (cf. Pe. A. Palaoro SJ)

Estamos fazendo o percurso contemplativo, seguindo o evangelista Marcos, primeiro a escrever um Evangelho que conserva o calor dos inícios da vida cristã. É o mais conciso. Não apresenta grandes discursos de Jesus nem conta muitas parábolas. Interessa-lhe o cotidiano na vida pública de Jesus: atitude para com os pobres, presença terapêutica, liberdade diante da religião, do templo e das tradições judaicas...

A intenção de Marcos é que nos façamos a pergunta: “quem é Jesus?” Ele revela progressivamente sua personalidade e identidade.

Jesus não era um escriba letrado, e seu único título era sua verdade, honestidade e bondade. Havia uma concordância entre o que dizia e fazia, entre o que era e o que ensinava.

Jesus era um “mestre da vida humana digna”.

O evangelho deste domingo é o primeiro ato público de Jesus. Depois do batismo e da sua experiência no deserto, o seu primeiro contato acontece na sinagoga. A primeira intenção de Jesus foi redirecionar a religiosidade do povo judeu que tinha sido deformada por uma interpretação opressora da Lei. O relato faz referência ao ensinamento de Jesus, mas não diz o que ele ensina. Fala-se de suas obras: Curas e expulsão de demônios. Jesus liberta de um poder opressor e imundo.

Libertação em duas direções: do mal e da Lei explicada de maneira alienante pelos fariseus. As pessoas reconhecem nele um novo ensinamento, com convicção e coerência de vida.

O ensinamento é novo porque liberta ao mesmo tempo que ensina. Marcos dá mais importância ao modo de falar de Jesus que ao conteúdo de seu ensinamento.

Ensinava com autoridade, e não como os escribas e fariseus. A palavra “autoridade” provém do verbo latino “augere”, que significa aumentar, fazer crescer, elevar o outro…Jesus desperta a autonomia e a autoria do outro para que ele seja capaz de dar direção à própria vida.

Ao entrar na sinagoga, Jesus se volta para quem não recebia atenção. O homem possuído é o símbolo de todas as pessoas despersonalizadas, impedidas de falar e agir, como sujeitos da própria vida e história. Outros pensavam, falavam e agiam por ele.

Jesus vai curá-lo com sua presença e também com sua voz. Ao lhe dizer: “cala-te e sai dele”, está desatando uma vida e devolvendo ao homem possuído o seu ser essencial. Há palavras que destravam a vida.

Quanto aspira nosso coração escutar este convite: “esteja livre!...” Livre do que os outros possam dizer ou pensar a seu respeito e do domínio das suas compulsões. Livre para amar sem defesas e ser você mesmo.

Jesus movia e convertia com suas palavras.
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