“Não deixeis que vos roubem a vossa alegria e a vossa juventude” Francisco e os jovens (I): “Ousai sonhar grande!”
"Confia aos jovens a tarefa de serem “revolucionários”, “discípulos missionários, mensageiros da Boa Nova de Jesus, sobretudo para os contemporâneos e os amigos"
“Vós, jovens, criai confusão, fazei barulho”
“Deixai a vossa pegada neste mundo”
“Não confundais a felicidade com um divã”
“Deixai a vossa pegada neste mundo”
“Não confundais a felicidade com um divã”
| Anselmo Borges Padre e professor de Filosofia
No passado dia 2, no jornal “La Croix”, Gilles Donada sintetizou, em dez pontos e a partir de citações de discursos, mensagens e apelos feitos por ele, o pensamento e atitude do Papa Francisco em relação aos jovens. Permito-me pedir emprestado, e com a devida vénia, o essencial dessa bela síntese, que, julgo, poderá ajudar imenso na preparação para a Jornada Mundial da Juventude.
1.“Vós, jovens, criai confusão, fazei barulho”.
É a tradução da frequente exortação de Francisco aos jovens: “hacer lío”, expressão tipicamente argentina. Com ela, quer pedir que não adormeçam, que remem “contra a corrente”, erguendo-se contra a injustiça. “Fazei barulho”, mas “um barulho construtivo”, “um barulho de amor”. “Quero que vos façais ouvir nas dioceses, quero que a Igreja vá para a rua, quero que nos defendamos de tudo o que é mundanidade, imobilismo, conforto, do que é clericalismo, de tudo o que nos fecha em nós próprios”.
Confia aos jovens a tarefa de serem “revolucionários”, “discípulos missionários, mensageiros da Boa Nova de Jesus, sobretudo para os contemporâneos e os amigos.” “Não tenhais medo de levantar questões que ponham as pessoas a reflectir”. “Quereria pedir-vos que griteis, não com a voz, mas com a vossa vida, com o coração, para assim serdes sinais de esperança para o desencorajado, uma mão estendida a quem está doente, um sorriso acolhedor para o estrageiro, um apoio atento para quem está só.”
2. “Não confundais a felicidade com um divã”.
Francisco não quer ver uma parte da juventude anestesiada na passividade e no consumismo. Ele agita-a: Onde se instalaram “estes jovens adormecidos, atordoados, embrutecidos?” Denuncia a atitude dos que se instalam num divã sem se importar com nada e dos que ficam num balcão a ver de longe a vida a passar, reformados antes do tempo... “Na vida, há uma paralisia ainda mais perigosa e muitas vezes difícil de identificar e que nos custa muito reconhecer. Gosto de lhe chamar a paralisia que nasce quando se confunde a felicidade com um divã”. “Um divã que nos ajuda a sentirmo-nos confortáveis, tranquilos, bem seguros. Um divã que nos garante horas de tranquilidade para passar para o mundo dos videojogos e horas e horas diante do computador. Um divã contra toda a espécie de dor e de medo, sem preocupações. Cuidado: quando escolhemos o conforto, confundindo felicidade e consumismo, o preço que pagamos é elevadíssimo: perdemos a liberdade”.
3. “Deixai a vossa pegada neste mundo”.
Não viemos ao mundo para “vegetar” como “legumes”, insiste, mas para deixar uma “pegada”. “Podeis tornar o mundo melhor, deixar uma pegada que marque a história, a vossa história e a de muitas outras pessoas. A Igreja e a sociedade têm necessidade de vós. Que a vossa visão das coisas, a vossa coragem, os vossos sonhos e ideais derrubem os muros do imobilismo e abram caminhos que nos conduzem a um mundo melhor, mais justo, menos cruel e mais humano!”
Essencial para poder deixar a sua pegada neste mundo é cada um, cada uma acolher primeiro a pegada de Jesus. “Que Cristo transforme o vosso optimismo natural em esperança cristã, a vossa energia em virtude moral, a vossa boa vontade em amor autêntico, desinteressado. Eis o caminho que sois chamados a percorrer. Este é o caminho para vencer tudo o que, nas vossas vidas e na vossa cultura, ameaça a esperança, a virtude e o amor. Deste modo, a vossa juventude será um dom para Jesus e para o mundo.”
4. “Não deixeis que vos roubem a vossa alegria e a vossa juventude”.
Francisco está consciente do perigo de instrumentalização da juventude pelo mundo de hoje. “A cultura actual apresenta um modelo de pessoa muito associado à imagem do jovem. Sente-se belo quem tem um ar jovem, que faz tratamentos para fazer desaparecer os traços do tempo. Os corpos jovens são constantemente utilizados na publicidade, para vender. O modelo de beleza é um modelo jovem, mas atenção!, porque isso não é elogioso para os jovens. Isso significa apenas que os adultos querem roubar a juventude para eles, isso não significa que respeitem, amem e cuidem dos jovens.”
Por isso, suplica: “Por favor, mantende viva a vossa alegria, ela é o sinal de um coração jovem, de um coração que encontrou o Senhor. E se mantiverdes viva esta alegria de estar com Jesus, ninguém vo-la poderá tirar, ninguém. Mantende esta alegria, conscientes de ser amados pelo Senhor. Com este amor, ireis poder mudar esta sociedade.“
Pede que não se deixem enganar. “Vós, caros jovens, vós não sois o futuro. Diz-se habitualmente: ‘Vós sois o futuro’. Não; vós sois o presente. Vós não sois o futuro de Deus: vós sois a hora de Deus. Ele convoca-vos, chama-vos nas vossas comunidades, chama-vos nas vossas cidades para ir à procura dos vossos avós, dos vossos anciãos, apela para que vos levanteis e tomeis a palavra com eles e realizeis o sonho que Ele sonhou para vós.”
5. “Ousai sonhar grande!”
É outro refrão de Francisco, dirigindo-se aos jovens: “Não tenhais medo do futuro. Ousai sonhar grande! É para estes sonhos grandes que vos convido hoje. Por favor, não vos acantoneis na ‘pequenez’, não voeis ao rés-do-chão, voai alto e sonhai em grande!” “Nós, nós todos, ficamo-vos gratos quando sonhais. Sim, enquanto Igreja, também temos necessidade de sonhar, temos necessidade do entusiasmo, do ardor dos jovens para ser testemunhas de Deus que é sempre jovem.”
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