ASCENSÃO: ampliar nossos horizontes atrofiados... (cf. Pe. A Palaoro SJ)

Após uma longa e criativa caminhada com Jesus, a liturgia nos faz “desaparecer em Deus”, como o Cristo da Ascensão “desapareceu em Deus”.

Depois da Ressurreição, Jesus “ascendeu”. E fez isso abertamente. Os discípulos, atordoados, permaneceram olhando para o alto, enquanto Jesus partia. Começava uma nova maneira de se fazer presente junto aos seus seguidores. Ele os estaria acompanhando todos os dias até o fim do mundo. Nada de ruptura, mas uma mudança qualitativa.

Jesus “foi levado ao céu”... Não se “elevou ao céu” no sentido estrito, senão que “desceu” ao mais profundo de nossa existência, para dentro da nossa história. Presença misteriosa, não restrita aos limites do espaço e do tempo. Transcende o que se pode ver e tocar.

Naqueles Onze apóstolos, “catequizados” pelas mulheres que fizeram a primeira experiência de encontro com o Ressuscitado, nos encontramos todos os cristãos.

Jesus não “subiu” para fugir dos problemas deste mundo, mas destruindo a morte, fortaleceu o vínculo que nos une, para continuar atuando em nosso favor de um modo diferente. A ressurreição é “ir mais além”, para desfrutar de um merecido descanso depois de tanto sofrimento. Ressuscitar significa viver mais, amar mais, e compartilhar a vida em plenitude.

Ali onde as pessoas se ajudam a viver gratuitamente uns aos outros, em solidariedade e entrega radical, podem confessar realmente que Jesus ressuscitou e continua presente neles.

Quando alguém perguntar: onde estão os sinais de que o Cristo triunfou da morte? Respondemos: vejam como creem e atuam os cristãos! Ele não nos abandonou! Para nós, seguidores(as) de Jesus, a Ascensão é abertura para o cotidiano, para a realidade do serviço. É preciso partir, para viver o chamado do Mestre ao longo da existência.

A festa da Ascensão nos revela que vivemos o “tempo do Espírito”; tempo de criatividade, ousadia e novidade... O Espírito não proporciona “receitas eternas”. Por isso, não podemos ficar olhando para cima... O Espírito nos dá luz e inspiração para contemplar a realidade. Descruze, pois, os braços, deixe de olhar passivamente para o céu e seja “presença cristificada” que fermenta e transforma a realidade.

O mistério da Ascensãonos sensibiliza e nos capacita para ir ao encontro do nosso mundo com uma visão mais contemplativa. O “subir”até Deus passa pelo “descer” até às profundezas da humanidade. Ascensão nos convida a olhar o mundo como “sacramento de Deus”. Um olhar de esperança, de ternura e que compromete solidariamente.

Jesus se retira para que os discípulos cresçam e amadureçam. Saber retirar-se a tempo implica uma grande sabedoria. Os pais nem sempre o conseguem, e não deixam os filhos crescer. Jesus soube retirar-se a tempo, e confiou aos discípulos sua própria missão: “ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura”. A Ascensão de Jesus marca o início de nossa missão.

A Ascensão nos impulsiona, ao mesmo tempo, para Deus e para o mundo. Paixão por Deus e paixão pelo mundo. Descobrir Jesus dentro de si mesmo, nos outros e no mundo é demasiado exigente e comprometedor. Muito mais cômodo é continuar olhando para o céu... e não sentir-nos implicados naquilo que está acontecendo ao nosso redor.

A Ascensão de Jesus nos desafia a romper a estreiteza de nossa vida para expandi-la a horizontes mais inspiradores.
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