CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2018 E PÚBLICO LGBT... (cf. P. Luis Correa SJ)
Objetivo geral da CF? Construir fraternidade, promovendo a cultura da paz; agir contra a violência aos LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais).
De onde vem esta violência horrível e absurda? O massacre de Orlando foi a ponta do iceberg. A hostilidade física e verbal contra os LGBT, conhecida como homofobia, vai na contramão do Evangelho. Há cristãos extremistas que festejam publicamente o ataque aos gays. Eles, por desgraça, dizem que “Deus odeia os veados”, o que não é verdade.
O quadro de violência contra o público LGBT tornou-se mais evidente por causa da visibilidade desta população no mundo atual. Eles exigem ser respeitados e reivindicam os mesmos direitos dos demais cidadãos. Quem não tem um gay na sua família, vizinho, amigo, ou colega de trabalho?
Contudo, esta realidade está ausente em muitos documentos da Igreja Católica. Ao falar de pobres, e de pessoas que sofrem, menciona-se: migrantes, vítimas da violência, refugiados, vítimas de sequestro e tráfico de pessoas, desaparecidos, portadores de HIV, vítimas de enfermidades endêmicas, tóxico-dependentes, idosos, meninos e meninas vítimas da prostituição; mulheres maltratadas, vítimas de exclusão e exploração sexual, pessoas com deficiência, grandes grupos de desempregados, moradores de rua, indígenas, afro-americanos... Infelizmente, não se fala de LGBT, pois incomoda em muitos ambientes, silenciando o sofrimento desta população.
A hostilidade a LGBT não é gratuita. Há importantes indicações de que o preconceito contra esta população seja um temor inconsciente a reconciliar-se com os seus impulsos interiores. Quanto maior o fanatismo maior a necessidade de ocultar sua realidade mais profunda.
Para enfrentar o ódio a LGBT, grupos políticos propuseram políticas públicas de educação promovendo a “igualdade de gênero e orientação sexual”. Por igualdade de gênero, entende-se tanto entre homem e mulher. Por igualdade de orientação sexual, entende-se entre heterossexuais e homossexuais. A proposta gerou grande controvérsia e o resultado foi a retirada dessa expressão na Base Curricular do Ministério da Educação. Fala-se apenas em formação humana integral, construção de uma sociedade “justa, democrática e inclusiva” e oposição a “qualquer forma de discriminação”.
Há pesquisas de neurociência concluindo que o sexo biológico não se reduz à genitália e à anatomia. É o cérebro que define a identidade e a orientação sexual. No caso de pessoas transgênero, o cérebro e a percepção de si não correspondem à genitália e ao restante do corpo. A pessoa se sente homem em um corpo de mulher, ou se sente mulher em um corpo de homem.
Mesmo que haja também fatores psicossociais incidindo nesta realidade, ser LGBT não é escolha e nem opção individualista. São faces da complexa diversidade entre homem e mulher. Não se pode querer que todos os seres humanos vivam como se fossem heterossexuais. Não se pode ignorar as diversas formas de discriminação e violência que oprimem e devastam tal população.
Há uma perspectiva cristã de gênero propondo não renunciar à diferença entre homem e mulher e à sua fundamental importância, que tem raiz no sexo anatômico e constitui o arquétipo do qual se origina a humanidade. Que não se pense nos processos sociais e culturais prescindindo inteiramente do componente biológico, da estrutura genética e neuronal do sujeito humano. Todavia, que se evidencie também o papel da cultura e das estruturas sociais.
A superação de discriminações e marginalização tem eco na pregação e no exemplo do Papa Francisco. Ele convoca a Igreja a ir às periferias existenciais, ao encontro dos que sofrem com as diversas formas de injustiça, conflitos e carências, entrar no coração do drama das pessoas, compreender o seu ponto de vista para ajudá-las a viver melhor e reconhecer seu lugar na Igreja. O Papa quer que o anúncio do amor salvífico de Deus preceda toda obrigação moral e religiosa, curando as feridas e fazendo arder o coração, como nos discípulos de Emaús.
Não há cidadania e nem sã laicidade sem proteção das pessoas, sobretudo as mais vulneráveis, sem liberdade religiosa e de consciência, e sem convivência com a legítima diversidade em um mundo plural. Só assim os LGBT poderão viver e respirar em seu próprio gênero e sexualidade.
Nenhum ser humano é um mero transgênero ou cisgênero, homossexual ou heterossexual, mas é antes de tudo criatura de Deus e destinatário de Sua graça, que o torna filho Seu e herdeiro da vida eterna.
“Eu falei com muitos pais nesses anos. E eu acho que eu só poderia lhes dizer que ouçam seus filhos e não tentem fazer prevalecer suas opiniões sobre as deles”.
“Quando ele me disse que era homossexual, meu mundo caiu. Eu fiz tudo que pude para curá-lo de sua doença. Há oito meses, meu filho pulou de uma ponte e se matou. Eu me arrependo amargamente de minha falta de conhecimento sobre gays e lésbicas. Percebo que tudo o que me ensinaram e me disseram era odioso e desumano. Se eu tivesse pesquisado além do que me disseram, se eu tivesse simplesmente ouvido meu filho quando ele abriu o coração para mim... eu não estaria aqui hoje, com vocês, plenamente arrependida...”
Certa vez, o Papa deu um conselho precioso: “é melhor ficar longe dos sacerdotes rígidos, eles mordem”. E não são só sacerdotes rígidos que causam dano a tantas pessoas, mas também movimentos religiosos e fiéis rigoristas. É preciso que os LGBT sejam protegidos de discursos tóxicos e práticas nocivas (exorcismos, orações de “cura e libertação”...). Colégios, paróquias, movimentos, pastorais e obras sociais devem ser ambientes acolhedores, e não hostis.
A Palavra de Deus, tirada de contexto e lida em perspectiva rigorista, torna-se palavra de morte, um instrumento diabólico. Daí vêm as “balas bíblicas” disparadas impiedosamente contra homossexuais e transgêneros. Esta Campanha da Fraternidade que visa superar a violência, é uma chance extraordinária de se fazer o bem, revendo-se conceitos e práticas a respeito.
A CF/2018:
Tema: Fraternidade e superação da violência
Lema : Vós sois todos irmãos... (Mt 23,8).
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