32ª DTC: AS MOEDAS DO CORAÇÃO NÃO FAZEM RUÍDO... (cf. Pe. A. Palaoro SJ)


Embora o relato deste domingo se reduz a poucos versículos, tem uma profundidade enorme. É o melhor resumo do evangelho: toda a parafernália religiosa externa não tem nenhum valor espiritual; o único que importa é o interior de cada pessoa.

Vivemos a cultura da superficialidade e da aparência e perdemos o caminho do coração; carecemos de interioridade, carecemos de humanidade.

Este simples relato deixa clara a crítica de Jesus à religião de seu tempo (e a de todos os tempos). N’Ele destaca-se a diferença entre o cumprimento de normas e a vivência interior, entre os ritos e a experiência de Deus. Ainda não aprendemos a lição. Hoje continuamos dando mais importância ao externo que a uma atitude interior. Nós mesmos continuamos dependentes da vaidade e da aparência e não da atitude vital, de onde flui nossa vida.

A crítica de Jesus aos escribas é dura, pois desmascara a falsa religiosidade deles que buscavam a sua própria honra. Enquanto aparentavam uma piedade profunda aproveitam-se de seu prestígio religioso para viver à custa das viúvas, e das pessoas mais indefesas de Israel.

É inútil fazer bela figura diante de Deus, pois Ele não se deixa impressionar pelas grandezas humanas. O Reino de Deus subverte as categorias humanas: O que é grande aos olhos humanos, é desprezível para Deus. E vice-versa.

Encontramo-nos diante de uma mulher sem nome, pobre e viúva. Coloca sua oferenda com simplicidade, e sem vergonha de colocar pouco no cofre, embora fosse tudo do que tinha. Segundo Jesus, ela deu mais que todos, pois deu “tudo o que tinha para viver”.

“Muitos ricos depositavam grandes quantias”. As moedas eram depositadas em uma espécie de funis enormes, colocados ao longo do muro do Templo. A ampla boca do funil de bronze permitia lançar as moedas de uma certa distância, fazendo muito ruído ao caírem. Os ricos ouviam, com orgulho, o som de suas moedas ao se chocarem com o metal no interior do cofre. O que a viúva depositou foram duas moedinhas do mais baixo valorda época e que não emitiram sons ao passarem pela boca do funil.

Mas Jesus, com sua sensibilidade aguçada, chama os seus discípulos para observá-la, pois dificilmente encontrarão no ambiente do Templo um coração mais generoso e mais solidário com os necessitados. Gente simples que poderá ensiná-los a viver o Evangelho. Jesus vê além das aparências e descobre a generosidade e o desprendimento dessa pobre mulher.

Dizia S. Ambrósio: “Deus não se fixa tanto no que damos, quanto no que reservamos para nós”. Aquilo que se guarda acaba se perdendo.

“Ofereceu tudo aquilo que possuía para viver”. Para captar toda a força desta frase final, temos que levar em conta que em grego “bios” significa não só vida, mas também modo de vida, recursos, sustento; conjunto de bens imprescindíveis para a subsistência. Deu tudo o que constituía sua possibilidade de viver equivale a pôr sua vida nas mãos de Deus. E assim, vamos nos aproximando cada vez mais de nosso centro, ou seja, do nosso coração, onde as moedas não fazem barulho...

A vida é uma oferenda contínua.
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