4º DTQ: DEUS MARCA ENCONTRO COM A HUMANIDADE... (cf. Pe. A. Palaoro SJ)

O evangelho indicado para este 4º dom. da Quaresma nos faz retomar o verdadeiro sentido do Mistério da Encarnação. Pode parecer estranho, uma vez que a liturgia quaresmal nos motiva e nos prepara para viver os mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo. Mas, os “mistérios” da vida de Jesus não estão separados: trata-se de um só e único “Mistério”: o “Deus que se humaniza” para redimir a humanidade perdida.

O que aconteceu no mistério da Encarnação é algo surpreendente e cheio de novidade. Não só Deus ama radicalmente a sua criatura, senão que se “abaixou” e se fez um de nós em Jesus. A carne é digna de Deus, o mundo é digno de Deus, e a Encarnação é a expressão mais profunda de que somos de Deus. Com isso, rompe-se o medo do corpo, o medo do humano, o medo do diferente, o medo do mundo, o medo de sentir e experimentar a condição humana, com sua grandeza e fragilidade.

O Criador não é nosso rival, mas amigo; Ele não é insensível, mas providente, amigo e fonte de nossa liberdade.

O relato de hoje revela um Deus amoroso no seu encontro com o mundo. Ele se tornou próximo e revelou que o caminho para a plenitude e a transformação humana consiste “entrar no fluxo do encontro intra-trinitário”, re-construindo as relações rompidas.

Ele chamou o ser humano a sair de seu mundo fechado para expandir-se em direção a um novo encontro com tudo o que existe, prolongamento do encontro trinitário.

Contemplemos nosso mundo fragmentado, vendo as diversidades em conflito gerando sofrimento, exclusão e morte... Entrar nesse fluxo do “amor compassivo e descendente de Deus” ativa em nós uma maneira cristificada de ser e de viver.

Ter-se encontrado com o Deus-Amor, tornamo-nos mais “encarnados” na realidade e mais comprometida com os irmãos, sobretudo com os mais pobres, sofridos e excluídos. Olhar o mundo como “sacramento de Deus”, como dom pelo qual Deus mesmo se faz encontrar. O mundo é lugar do encontro, da receptividade e da oferenda. Disponibilidade, despojamento e mobilidade são exigências básicas.

Olhar a partir de um horizonte mais amplo, ajuda a relativizar nossos próprios absolutos e deixar-nos impactar pelos valores presentes no outro. Escutar de tal maneira que o que ouvimos penetra na nossa própria vida; isso significa implicar-nos afetivamente. Acolher na nossa própria vida outras vidas.

O encontro com o diferente possibilita também o encontro consigo mesmo. Quando alguém se desloca e se aproxima de realidades diferentes, é para encontrar e encontrar-se. Deus se encontra no amor.
Volver arriba