REALEZA INTERIOR, NOSSO SER VERDADEIRO... (P. A. Palaoro SJ)
A intenção da festa pode até ser boa, mas o título atribuído a Jesus não poderia ser de seu agrado. Na realidade, o que celebramos é um Jesus Servo, que se coloca a serviço dos mais desfavorecidos, sem poder, sem glória e sem pompas.
Podemos conservar o título, mas mudar a maneira de entendê-lo; Jesus é “Rei do Universo” quando a paz, o amor e a justiça reinarem em todos os rincões da terra. Portanto, qualquer conotação com o poder e a pompa esvazia a mensagem de Jesus. Uma coroa de ouro na cabeça, um cetro brilhante nas mãos, um manto tecido de brocados e pedras preciosas, são muito mais degradantes que a coroa de espinhos e a cana que os soldados colocaram em suas mãos. Diante de Pilatos, Jesus açoitado e coroado de espinhos, se mostra sereno e revela a plena humanidade de um Rei sem reino e dos desamparados...
Jesus dizia que o primeiro, seria o último, e o grande deveria ser o servidor de todos. O afã de identificar Jesus com o poder e a glória é um modo de projetar n’Ele nossa necessidade de grandeza. O poderé objeto de desejo e fascínio para muitos. Não há ser humano que não seja seduzido por esta sereia.
Em nosso mundo reina o terror, a miséria, a exploração, a vingança, a violência, a corrupção, o preconceito... Quando tudo isso mudar, quando todos vivermos a cultura do encontro, sem excluídos nem sofredores, então poderemos atribuir o título de Rei a Jesus.
Dentro do processo de Jesus frente a Pilatos ocupa um lugar destacado a questão sobre a verdade, e o título de “rei” é identificado com ser “testemunha da verdade”. A Verdade estava na sua atitude de vida. Ele era a Verdade.
O convite de Jesus é, portanto, inclusivo; toda pessoa que se adentre na experiência da verdade, sentirá que está em comunhão com Jesus: Vim ao mundo para dar testemunho da verdade.Jesus é rei porque vive na verdade.
Em certo sentido, podemos dizer que a verdade não passa pela mente, mas pela vida. O importante não é ter a verdade, mas ser verdadeiro. A pessoa verdadeira pode entrar em ressonância e em sintonia com a verdade do outro.
O intolerante, o preconceituoso julga ser dono da verdade e quer impô-la sobre os outros. A verdade não é um dogma e sim um caminho. Quanto mais verdades absolutas, mais estreito vai ficando o nosso mundo. A humanidade busca a verdade, mas também pode asfixiá-la. Muitos costumam calar a verdade que incomoda.