Última ceia... (cf. Marta Almeida)

"Rito de Inversão", ou "Ritual de Inversão de Status": Já ouviu falar? Eu já ouvi, embora bem pouquinho. É mais do âmbito dos antropólogos. Trata-se de um ritual em que uma pessoa considerada, por algum motivo, "superior", exerce o papel de inferior. E vice-versa.

Lá no Xingu há um desses: Há alguns dias em que as mulheres tomam o lugar dos homens, na tribo. Têm o poder e o status masculinos. Podem até bater neles, podem até xingá-los.

O Halloween dos EUA pode ser considerado outro. As crianças vestem-se de figuras amedrontadoras, de personagens sobrenaturais, e têm permissão para importunar os adultos, bater nas portas, exigir doces, fazer travessuras, e os adultos comportam-se com "submissão" às suas exigências.

É isso, mais ou menos.

Nestes tempos de festividades, é fácil observar a proliferação de comportamentos típicos dos ritos de inversão. Os pequeninos, os esquecidos, os vulneráveis tornam-se alvo de atenção, de deferência, de gestos de generosidade. Às vezes, gestos até imprudentes, impensados, inadequados. Gestos, às vezes, que mais revelam a soberba do que o real interesse nos Pobres de Javé... Embora muito bem intencionados e até bonitos.

Aí, acaba a festa, acaba o rito. Volta tudo ao que era... Foi só um "susto"... Os "grandes" voltam à sua "grandeza" separada, os pequenos são devolvidos à sua obscuridade silenciosa...

Não que eu ache de todo ruim. De jeito nenhum. O contato com os pequeninos causa um senso de urgência, de necessidade tão grande, que nada se perde, tudo é necessário, tudo é oportuno, tudo é apreciado.

O contato com os pequeninos nos enche de um desejo de tudo o que possa tornar a realidade "menos pior", venha como venha, chegue como chegue.

Na verdade, O MENOS PIOR é um imperativo no quotidiano dos pobres... Mas aí lembro-me da cena amada: "Naquela quinta-feira em que Jesus foi entregue, ele, antes de cear, tirou seu manto... despiu sua túnica, cingiu-se com uma toalha e, abaixando-se até o chão, lavou os pés dos seus discípulos... E lhes perguntou: 'VOCÊS ENTENDERAM O QUE EU FIZ?"

À primeira vista, é um rito de inversão, não? Ele, o Senhor, abaixado, lavando pés… Mas não! Não é, porque, após isso, nenhuma superioridade se restabelece - tanto quanto nunca foi estabelecida entre o Senhor e nós.

Depois disso, Ele é preso. Flagelado. Coroado de espinhos, Crucificado. Morto. Por amor a nós. Para ser o servo de todos, diante do Pai. E se pudesse ir além de morrer, além teria ido.

"Ele não se aferrou ao fato de ser igual a Deus; Não se beneficiou de sua condição divina. Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a condição de servo, fazendo-se semelhante aos homens. E humilhou-se a si mesmo sendo obediente até a morte. E morte de cruz."

Creio que esse é o "final feliz" dos ritos de inversão. Aquele em que não levamos as coisas ao que eram antes, mas, ao contrário, desejamos mais e mais encontrar nossa verdade e nossa felicidade na condição de servos, de servos cheios de amor - se tivermos entendido o que Ele fez.

Nestas Festas, bote fé no seu rito de inversão. Ele é valioso! Mas minha oração por todos nós é que, de rito de inversão em rito de inversão, possamos caminhar decididos para um feliz encontro com aquela pessoa, em nós, que é a face de Jesus entre os homens. Com o recanto de nosso coração que é luminoso pela alegria de servir e amar. Caminhar para o momento extremo em que nenhum rito de inversão tenha volta.

AMÉM
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