Um milagre prestes a ruir... (Lucas Vinicius SJ)
Em Ubatuba, prisioneiro dos Tamoios, Anchieta escreveu o poema à virgem Maria, o maior da língua portuguesa. Mas, também em Bertioga, ele deixou lembranças importantíssimas de sua presença. O município está a trinta minutos de uma viagem tranquila e com comentários sem pausa do Pe. Esparta, um jesuíta de 91 anos encantado pela história do Santo. Ali se conserva um dos primeiros fortes construídos pelos portugueses no Brasil e importantes riquezas da história do nosso país. Vale a pena conferir!
Na ilha do Guarujá, do outro lado do canal de Bertioga, há uma igreja pequenina em ruínas, onde São José de Anchieta rezou algumas missas. Foi nesse lugar, segundo um relato místico, que o jesuíta, rezando profusamente, alguns índios viram a capelinha ficar iluminada e ouviram cantos celestiais. Nos pareceu uma relato incrível, por isso pegamos um barco.
Depois de atravessar o canal e chegar à ilha, caminhamos um pouquinho e logo encontramos o lugar histórico. As ruínas eram magníficas: de pedras, com um reboco de musgos, vencedora do tempo, ainda lugar de oração. Havia restos de velas e pequenas imagens de santos.
Mas logo vieram as nossas perguntas: Quem protege isso? Não é cuidado por quê? Por que está mais abandonado do que devia? Eu, cético que sou, aceitava o milagre da igrejinha iluminada. Absurdo era o valor cultural e histórico daquele lugar ficar esquecido. A história era uma criança cruelmente abandonada, a mendigar confiança e carinho.
Voltamos para casa, e eu, tão advento, fico esperando que o “valor” não se arruíne de vez nestes nossos tempos de horrendas intempéries. Arruínam a democracia e a política com a corrupção, colocam abaixo a vida e os sonhos dos jovens com fundamentalismos religiosos e ideológicos; e ainda deixam a mercê das tempestades a bela história do Brasil, preocupados em manter a Disney com viagens estúpidas para Orlando.
Vale a pena conhecer a Capelinha de Santo Antônio, mesmo em ruínas.