“O silêncio é a sabedoria de todas as sabedorias; olha, vê e cala-te" A sabedoria de viver (I)

Mandala
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"Aproveitando uma Quaresma forçada ou auto-imposta, parar e ouvir, no silêncio, a voz da sabedoria e do sentido"

O mais recente número de “Philosophie Magazine”. Hors-Série: “Sagesses du monde”, Inverno-Primavera 2020, passa em revista as “sabedorias do mundo” e refere concretamente a Índia, a China, o Japão, as Américas e África. Dele retirei alguns provérbios, contos, estórias, paradoxos..., que levam a pensar. Aliás, grandes pensadores europeus, como, por exemplo, A. Schopenhauer e M. Heidegger, foram beber a essas sabedorias, sobretudo sabedorias orientais, inspiração para a sua filosofia.

Nestes tempos dramáticos e sombrios, que vêm interrogar sociedades do imediatismo consumista e alarve, da corrupção pérfida e invasiva, da banalidade imperante, do prazer e do ter que de tudo se querem apoderar corrosivamente, é bom, aproveitando uma Quaresma forçada ou auto-imposta, parar e ouvir, no silêncio, a voz da sabedoria e do sentido. É esse o propósito simples do que aí fica, em antologia que organizei.

 1. A sabedoria

1. 1. “Um dia, um homem veio ver um sábio e perguntou-lhe: — ‘Mestre, que devo fazer para adquirir a sabedoria?’. O sábio não respondeu. Tendo repetido várias vezes a pergunta sem resultado, o homem retirou-se.

Mas regressou no dia seguinte e fez a mesma pergunta: — ‘Mestre, que devo fazer para adquirir a sabedoria?’ Não recebeu resposta.

Sabiduría

Veio de novo no terceiro dia: — ‘Mestre, que devo fazer para adquirir a sabedoria?’ Por fim, o sábio dirigiu-se a um lago e, entrando na água, pediu ao homem que o seguisse. Chegado a uma profundidade suficiente, agarrou-o pelos ombros e manteve-o debaixo da água, apesar dos esforços que ele fazia para se libertar. Ao cabo de uns instantes, o sábio largou-o e, quando o homem voltou, com grande dificuldade, a respirar, o sábio perguntou-lhe: — ‘Diz-me, quando estavas metido dentro da água, qual era o teu maior desejo? Sem hesitação, o jovem respondeu: — Ar! Ar! Precisava de ar’. — ‘Não terias preferido a riqueza, os prazeres, o poder? Não pensaste em nenhuma destas coisas?’ — ‘Não, Mestre, eu precisava era de ar e só pensava nisso’. — ‘Pois bem, continuou o sábio, para adquirir a sabedoria, é preciso desejá-la tão intensamente como há pouco desejaste ar. É preciso lutar por ela, excluindo toda e qualquer outra ambição na vida. Ela deve ser a única aspiração, noite e dia. Se procurares a sabedoria com esse fervor, encontrá-la-ás um dia.’” (Conto filosófico).

1. 2. “O silêncio é a sabedoria de todas as sabedorias; olha, vê e cala-te.” (Provérbio marroquino).

1. 3. “Havia em Bagdad um louco que não dizia nada nem ouvia nada. Perguntaram-lhe: — ‘Pobre louco, porque é que não dizes nunca uma palavra?’ O louco: — ‘A quem quereis que me dirija? Não vejo aqui ninguém que possa responder-me’.” (Conto árabe).

1. 4. “Não há caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho.” (Lao-tsé).

1. 5. “O nosso grande sonho, diz um astrofísico a um papua, é encontrar vida no planeta Marte’. —Porquê?’, perguntou o papua. ‘Quer isso dizer que a vossa vida é um fracasso?’”. (Estória papua).

1. 6. “Aquele que é senhor de si mesmo é maior do que aquele que é o senhor do mundo.” (Buda).

  1. 7. “Começa-se a envelhecer, quando se deixa de aprender.” (Provérbio japonês).

2. Eu e o outro

2. 1. “O homem é os outros homens”. (Provérbio banto).

2. 2. “Para se amar, é preciso conhecer-se. Se não conhecemos, não amamos.” (Provérbio indonésio).

2 . 3. “Aquele que guarda a amplidão do coração aberto é como o céu. Nada o ofende. Aquele que procura prejudicar prejudica-se a si mesmo, permanece só com o eco dos seus insultos.” (Texto búdico).

2. 4. “As faltas dos outros são fáceis de ver. As nossas dificilmente as vemos.” (Buda).

2. 5. “Em vez de dar um peixe a um homem com fome, ensina-o a pescar.” (Lao-tsé).

3. Ter e ser

3. 1. “Não ter nada a perder é ser bem rico.” (Provérbio chinês).

3. 2. “Quem tem muito dinheiro é sem dúvida feliz. Quem possui muita cevada é sem dúvida feliz. Mas quem não possui nada pode dormir.” (Canto sumério).

3. 3. “Mesmo se tens pouco para comer, partilha com alguém mais pobre do que tu.” (Provérbio sudanês).

3. 4. “O que dás é teu para sempre, o que guardas está para sempre perdido.” (Provérbio sufi).

3. 5. “Um rei do Oriente acabava de receber como presente um manto soberbo feito com fios de ouro e de prata, enviado pelo imperador da China.

O rei vestiu o manto e pediu a Nasreddin: — ‘Quanto achas que eu valho?’ Nasreddin examinou longamente a personagem e o seu manto, depois acabou por dizer: — ‘Tu vales 500 moedas de ouro’. — Tu não estás a pensar. O manto sozinho vale 500 moedas de ouro’. — ‘Eu sei, contei precisamente o preço do manto’.” (Estória da cultura muçulmana).

3. 6. Num certo país, havia um homem muito rico e outro muito pobre.

“O homem muito rico subiu com o filho ao cimo de uma colina, mostrou-lhe a paisagem à volta e disse: — ‘Olha. Um dia, tudo isto será teu’.

O homem muito pobre subiu também ao cimo da mesma colina com o filho, mostrou-lhe a paisagem à volta e disse: ‘Olha! Que beleza!’.” (Conto oriental).

(Continua)

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