3º DTP: RESSURREIÇÃO, ENCONTROS RE-CONSTRUTORES...

Poderemos fazer a experiência de abrir o coração àqueles que vivem nas mais variadas periferias existenciais... Quantas situações de precariedade e sofrimento presentes no mundo atual! Quantas feridas gravadas na carne de muitos que já não têm voz, porque o seu grito foi esmorecendo e se apagou por causa da indiferença dos povos ricos. A Igreja sente-se chamada a cuidar destas feridas, aliviá-las com o óleo da consolação,enfaixá-las com a misericórdia e tratá-las com a solidariedade e a atenção devidas (Papa Francisco – Misericordiae Vultus)


Se quisermos que a nossa vida cristã tenha a marca da Ressurreição, o convite é este: sair do próprio túmulo para viver encontros carregados de vida. É preciso remover as pedras que foram soterrando a vida dentro de nós e romper os muros que cercam nosso coração; é necessário compreender que somos chamados a um compromisso diferente e mais profundo: destravar portas e janelas, sair da reclusão de nossas casas para entrar na grande “casa” de Deus; romper com o tradicional para acolher a surpresa; deixar a “margem conhecida” para vislumbrar o “outro lado”; afastar a “pedra” da entrada do coração para poder viver os encontros com mais criatividade.

“Viver como ressuscitado” implica esvaziar-se do “ego”, para deixar transparecer o que há de divino. Somos já “seres ressuscitados”. O Ressuscitado nos faz ter um“caso de amor com a vida”. Pois a vida autêntica é a vida movida, iluminada, impulsionada pelo amor.

Quando acolhemos a presença do Ressuscitado, nossa vidase destrava e torna-se inovação criadora, liberdade, consciência, amor, arte, alegria, compaixão... É vida em movimento, e gesto de ir além de nós mesmos. Vida seduzida pelo amor, e pela ternura. Vida que é canto, dança, festa e convocação. Marcados pela ressurreição, passamos a nos relacionar de maneira diferente com os outros; brota em nós mais ternura, somos mais sensíveis à dor e à injustiça. O Ressuscitado nos sustenta e nos impele a ampliar nossa vida a serviço.

Olhar o ofício de consolar que Cristo nosso Senhor exerce” (EE 224) S. Inácio utiliza esta expressão quando apresenta a contemplação das aparições do Ressuscitado. Consolar é o que define a ação do Ressuscitado: a tristeza se converte em alegria contagiosa, o medo em valentia, a negação de Cristo em profissão de fé e martírio... Não é um ato pontual, mas de um `ofício´ de seu Espírito no mundo.

O efeito da presença do Ressuscitado sobre os discípulos termina sempre em reconhecimento, chamado e envio, em restauração de uma vocação e missão. Jesus ressuscitado exerce sobre eles o “ofício de consolar”, cujo efeito é iluminar o caminho pelo qual, em seu nome e com Ele, eles hão de percorrer. O “ofício de consolar” é a marca do Ressuscitado. Jesus ressuscitado se encontra com cada um dos seus amigos e amigas, ativando neles o sentido da vida, reconstruindo os laços comunitários rompidos... A consolação é uma expressão do Ressuscitado que reconstrói vidas marcadas pela dor e pelo fracasso.

“Consolação” e o verbo “consolar” revelam um tipo de proximidade e comunhão com o outro capaz de transmitir-lhe compreensão, alento, acolhida, impulso. Nos Exercícios Espirituais, consolação e consolar são a linguagem e ação de Deus no ser humano, comunicação do Criador com a criatura, e não deixa a pessoa consolada no mesmo lugar ou situação onde estava antes. A consolação de Deus é sempre dinamizadora daquilo que é divino no ser humano, e mobiliza a pessoa a sair de si mesma na direção do outro fragilizado gerando amor, alegria, fé, entusiasmo... E termina sempre em missão.

Somos consolados em nossas tribulações para poder consolar os outros nas suas. Exerçamos o “ofício de consolar”; a experiência da Ressurreição nos move a exercer este ministério humanizador.

Que assim seja e aconteça!
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