6º DTC: CONTÁGIOS QUE SALVAM... (Cf. Pe. A. Palaoro SJ)

Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou no leproso... (Mc 1,41

Jesus desvela sua personalidade. Autoridade e compaixão são dois atributos de Deus que Jesus deixa transparecer no encontro com doentes e excluídos.

Marcos revela também a superioridade de Jesus em relação à Lei. Ele não depende da Lei para fazer o bem ou para reintegrar o ser humano no convívio social e religioso. Pois, a Lei é (e deveria ser sempre) para o bem das pessoas

Jesus não duvida em transgredir a lei quando a vida está em perigo; mesmo sabendo que Ele se fazia “impuro” ao tocar no leproso. O motivo de sua atuação é só a compaixão. A compaixão se transforma em palavra eficaz que devolve a vida ao homem enfermo e marginalizado.

A compaixão era um dos atributos de Deus no AT. Jesus a faz sua. É uma demonstração de que para chegar ao divino não é preciso destruir o humano. A compaixão é a forma mais humana de manifestar amor. Quando alguém sente como seu o sofrimento do outro é quando, de verdade, se fez próximo dele.

Só tem "autoridade" quem garante a vida e a recupera em todas as circunstâncias. A vida do outro é a razão única da autoridade compassiva. O outro, sua necessidade e sofrimento, será a alavanca que gera no coração humano o exercício da autoridade como verdadeiro serviço.

E a compaixão desloca cada um para o lugar do outro. Só a compaixão move na direção da oferta do outro.

No relato do evangelho de hoje descobrimos uma cumplicidade entre o leproso e Jesus. Os dois vão além da Lei: um por necessidade imperiosa, o outro por convicção profunda.

O leproso, através de seu gesto ousado se aproxima de Jesus. Ao invés de ficar à distância e gritar sua marginalização, aproxima-se de Jesus, joelha-se diante dele e pede: “se queres, tens o poder de curar-me”. E viola a lei para ser curado.

É o encontro de dois “quereres” que faz surgir nova vida. E é através de suas mãos que estabelece com o leproso um contato sanador. Sua ferida será o lugar da experiência de Deus.

O significado original do verbo “tocar” vai além de um simples e rápido contato. Ele não só `tocou´ o enfermo por um instante, mas manteve essa postura durante um certo tempo.

O homem, até então marginalizado, foi reintegrado e aproveitou para contar o que lhe acontecera.

De acordo com o sistema religioso vigente, ao tocar um leproso, Jesus torna-se impuro, marginalizado e não poderia entrar publicamente numa cidade. Ele se retirou para o deserto; foi morar com os excluídos.

A cura do leproso revela que há também outros contágios que desumanizam: preconceito, intolerância, indiferença, suspeita.... E outros humanizam! Jesus contagia compaixão, bondade, acolhida... Há contágios que salvam e libertam.

Quantas leis, civis e religiosas, deveríamos transgredir hoje para ajudar todos os marginalizados a se reintegrarem na sociedade e na Igreja!
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