Brasil: Do sonho de potência ao sonho de grande Porto Rico
Neste sentido procurarei analisar o pensamento do recentemente nominado Ministro de Relações Exteriores através de seu artigo “Trump e o Ocidente” publicado em Cadernos de Política Exterior (ano III, n° 6, segundo semestre 2017). Ou seja, escrito o ano passado.
Podemos citar algumas frases que definem, de alguma forma, parte de seu pensamento: “Assim como a eleição de Trump fora, talvez, a mais extraordinária da história americana”, “Muita gente não sabe que o Ocidente está jogando, muito menos que está perdendo”.
Para Araújo a expressão “Ocidente”, acostumamo-nos a empregá-la apenas no sentido geopolítico de um grupo de países das Europa e USA , mas olhando o mapa e principalmente o território do espírito vemos uma enorme massa de sentimentos, ideias e crenças a qual “podemos chamar Ocidente uma entidade orgânica, viva, outrora pujante, mas hoje com sintomas sérios de debilidade e até mesmo demência, dando a impressão de que, deixadas as coisas ao seu curso natural, poderá desaparecer para sempre em poucos anos”.
Sem analisar este grave problema explica que assim como Ronald Reagan, um ator de pouco talento, conseguiu o que não conseguiram gerações de políticos sofisticados, derrotar o comunismo, Donald Trump “esse bilionário com ternos um pouco largos demais, incorporador de cassinos e clubes de golfe- parece ter hoje uma visão de mundo que ultrapassa em muitas léguas, em profundidade e extensão, as visões da elite hiperintelectualizada e cosmopolita que o despreza”.
Foi em Polônia onde Trump falou que quando João Paulo II visitou Varsóvia, em 1979, o povo gritou “Queremos Deus”. Este clamor, que foi o resultado de uma dura opressão da espiritualidade, imposta por uma ditadura feroz e materialista, é segundo Trump o clamor do Ocidente: agora os povos de USA e Europa ainda gritam “Queremos Deus”.
É impressionante a superficialidade e ou ignorância do “brilhante intelectual”, segundo o eleito presidente, porque não analisa o porquê da morte de Deus na civilização ocidental. Para Nietzsche ha chegada do niilismo foi produto de que os valores cristãos tinham perdido o seu poder em pessoas e na sociedade, que expressaram esta situação com uma simples frase “Deus está morto”.
Segundo o mesmo autor os valores tradicionais ensinavam uma “moralidade do escravo”, uma moralidade que fomentava comportamentos como a submissão e o conformismo que serviam aos interesses dos poderosos de seu tempo.
Por isto é importantíssimo definir que Deus é, o do clamor. Tudo indica que Trump, um bilionário, incorporador de cassinos (o jogo como estimulante da corrupção) define o Deus Garantidor da ordem (caótico) estabelecia, com seus abusos, o famoso Deus da civilização ocidental e cristã, defendido especialmente pelos militares argentinos, que salvavam as crianças recém-nascidas, que eram inocentes, e estupravam e matavam a suas madres indefesas igualmente inocentes, militares que assassinou 30 mil pessoas por motivos ideológicos e de poder, que assassinou 2 bispos e 19 sacerdotes que trabalhavam com os pobres, que determinou como cessante, todo professor que não fosse um castrado e sumiço na política.
Este é o Deus fomentado na época de Nietzsche que está morto. É o Deus dos Impérios, o Deus de Roma e o Deus do Império americano que possui 800 bases militares, distribuídas em 160 países, sem contar os porta-aviões, com tropas da ordem de 250 mil soldados, com um custo em 2014 de 85 bilhões de dólares. A área ocupada é de 2.200.000 hectares. O Império Romano tinha 35 mil bases de 5 mil soldados.
É o Deus de Trump aquele que, como o criminal Caim, responde “sou eu o responsável por meu irmão” deixando os pobres imigrantes de Honduras, Guatemala e México sem poder entrar em EEUU para recolher as migalhas que caem de suas suculentas mesas. Pois o verdadeiro Deus lhe dirá: “Na terra as fatigas, fome, sacrifícios de seus irmãos estão clamando contra você e sua nação”.
O nosso Deus, o Deus da imensa maioria dos brasileiros, é o Deus da vida, o Deus dos pobres e humildes o Deus libertador. É o Deus que corresponde ao ego “espiritual”, que outorga identidade a toda pessoa e sociedade, é o ego da solidariedade, da fraternidade, da participação de todos sem distinções odiosas, numa sociedade onde o bem comum é prioritário, e não o individualismo niilista, hedônico do ego que denomino reptilico, primitivo, que corresponde no cérebro humano a estruturas emergentes em 280 milhões de anos de evolução. Enquanto as estruturas do ego mamário correspondem a 95 milhões de anos de evolução e a do ego espiritual, o ego mais profundo e real, com a emergência do Homo sapiens a somente 80 a 50 mil anos.
Os dois egos que competem são o reptilico (egoísta, individualista, violento, etc.) e o ego espiritual, mais profundo, mais autentico, (da fraternidade, arte, ciência e amor). Se predominar o primeiro, como na sociedade atual, então aparecem os sintomas por Araújo sinalizados: infantilidade, debilidade, desorientação, individualismo niilista e narcisista e de ali, demência esquizofrênica de um ser dividido em sua realidade última.
Mas, Araújo afirma em seu artigo: “Há muito tempo um líder mundial não falava dessa maneira. Trump aqui se aproxima de Reagan e de Churchill ( que se viam como os grandes defensores da liberdade e da civilização diante da barbárie e a opressão) Brutal ignorância ou ocultamento, o ilustre e democrático Sir Winston Churchill disse em Yalta (1945) ”Não permitamos que a Argentina seja uma potência, ela arrastrará toda a América Latina para trás. A estratégia é enfraquecer e corromper a Argentina dentro. Destrua suas indústrias, suas forças armadas, estimule as divisões internas apoiando os lados direito e esquerdo, ataque sua cultura em todas as mídias, imponha lideres políticos para responder ao nosso Império. Isto será conseguido, graças a apatia do povo e a uma democracia controlável, onde os seus representantes levantarão as mãos em massa para servir a sua missão. Você tem que humilhar a “Argentina”. Qualquer semelhança com o Brasil atual é casualidade?
Mas não somente ignora ou oculta a história universal, mas claramente a história do Brasil, parece não ter lido o seguinte: “Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômico financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização de nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa está a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculizada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre” (Rio de Janeiro 23/08/54 –Getúlio Vargas).